2006/04/01

Divergência Global


Apesar da instabilidade geo-política que se vive no final deste Q1 2006 e das contínuas subidas das taxas directoras da FED, os dados para a economia americana apontam para os níveis mais optimistas, com um crescimento na casa dos 5% anualizados. Este crescimento, ao contrário do que o que algumas políticas europeias pretendem teorizar, não é acompanhado por níveis de desemprego acentuados, mas antes por números na casa dos 300 mil pedidos de subsídio de desemprego por semana, o que é um número relativamente baixo, se tivermos em conta que só no mês de março a economia americana deverá ter gerado 200 mil novos postos de trabalho.

Embora a queda destes níveis seja um dado assente para o que resta de 2006, o que se pode para já dizer é que a economia Americana prepara-se mais uma vez para um crescimento anual que poderá rondar os 3.5 %, mantendo assim o ritmo forte imprimido em 2005.

Com a economia Japonesa em forte recuperação suportada pela expansão do mercado exportador (com a China a comprar cada vez mais) e pelo progressivo desparecimento da anemia deflacionária que a tem amarrado, é talvez altura para a Europa tirar de vez os olhos da convergência intra-Europeia e dos défices excessivos e pensar naquilo que interessa aos europeus: a criação de riqueza à escala global.

Para já o que é certo é que podemos contar com um 2006 marcado por mais contestação social, por movimentos de concentração constantemente sabotados e minados pelos governos nacionais e grupos de interesse locais, por um BCE hesitante e dependente das vontades de 12 países de realidades heterogéneas, por desempenhos económicos cada vez menos competitivos e com menos valor acrescentado, por uma crescente descredibilização interna e externa da classe política europeia, por uma degradação dos sistemas de pensões e uma estrutura etária a ajudar, por uma Europa cada vez mais arredada das grandes decisões geo-políticas, e muito provavelmente por uma europa a crescer a metade do ritmo Japonês e a um terço do Americano.

Com o andar da carruagem, haverão mais uns quantos que lá para o final do ano estarão convencidos que o "modelo social europeu" não é sustentável, mas provavelmente ainda não em número que permita forçar a mudança urgente. A ideia de que a perda deste "modelo", não significa uma perda de bem-estar, mas sim a única via para manter esse mesmo bem estar (ou porventura aumentá-lo) demorará concerteza a assentar.

5 comentários:

Carlos Guimarães Pinto disse...

Importante notar que o crecimento americano se deve, em parte, a uma política orçamental expansionista. Como os portugueses bem sabem, essas políticas um dia têm de acabar e com custos bem altos para quem a practica.

JLP disse...

Caro Karloos,

Efectivamente esse é um dos elementos que tornam estranha a defesa intransigente de alguns da actual incarnação neo-conservadora do governo americano como paradigma do liberalismo. O peso massivo do estado americano, com o seu orçamento estratosférico e com a visão que sempre foi reinando de que o déficit se curava "mandando imprimir mais umas notas" estão lá para mostrar que o Liberalismo, apesar de alguns rasgos no bom sentido, ainda não tomou conta da Casa Branca.

Veremos as consequências que terão no futuro a perda do valor referencial absoluto do dólar e, por exemplo, o efeito do surgimento e expansão de mercados de crude com preços fixos em euros...

Abraço,

JLP

FMP disse...

Caro Karloos

Ainda assim o défice americano não é muito superior ao da UE e é inferior ao alemão ou italiano e muito semelhante ao francês... estamos de acordo com o erro que essas políticas constituem mas no fundamental não me parece que afecte a comparação . Ou seja, tem de existir mais qq coisa que tem atrasado o crescimento europeu...o meu post vai só nesse sentido

De resto, estou de acordo com ambos

JLP disse...

Já agora, fica para referência:

Top Ten National Budgets (2004)

List of countries by public debt

GDP - real growth rate

FMP disse...

Sem prejuízo das fontes que referiste, aconselho o FMI, que tem dados extensos, actualizados e acompanhados de vários estudos de economistas locais:

http://www.imf.org/external/country/index.htm

Em relação aos states, o FED e o BEA também têm dados actualizados e detalhados:

http://www.bea.gov/

http://www.federalreserve.gov/

Os meus comentários referiam-se aos dados de 2005 e não de 2004 : )