25 de Abril
Faz hoje trinta e dois anos que um grupo de soldados decidiu que não queria ir para uma guerra imbecil, e que a única forma de o evitar era acabar com um regime. O regime estava podre e sentia-se que ao primeiro abanão cairia.
O regime caiu naquilo que se convencionou chamar a revolução da liberdade. Muitos pensaram que seria, efectivamente, a revolução da liberdade e da democracia, mas cedo se concluiu que aqueles que tomaram a revolução para si pouco sabiam de liberdade e não gostavam de democracia.
A liberdade surgiu, sim, mas só para alguns. Os anos que se seguiram à revolução foram de perseguições tão más ou piores do que aquelas que tinham sido feitas durante a ditadura. A revelação dos nomes dos informadores da PIDE provocou uma chacina em muitas zonas rurais e mesmo aqueles que mais tarde vieram a provar-se inocentes tiveram a sua vida arruinada. Os que de alguma forma tiveram sucesso antes de Abril foram perseguidos, chamados de fascistas, nem Amália Rodrigues escapou. Entre os empresários havia muitos que tinham enriquecido graças ao regime, mas muitos também pelo seu trabalho e parcimónia:todos acabaram expulsos do país, expurgados da sua riqueza. Nos meses seguintes à revolução o país viu sair os melhores gestores e técnicos, aqueles que podiam dar um rumo ao país, criar alternativas. O resultado foi que em 1976 o país estava muito mais pobre e a classe operária iria reparar que apesar de receberem muito mais, podiam comprar muito menos.
Quanto ao sentido de democracia de quem se apoderou da revolução, penso não haver grandes dúvidas. Em entrevista a Oriana Falacci, Álvaro Cunhal disse (entre outras coisas): “Nós, os comunistas, não aceitamos o jogo das eleições (...) Se pensa que o Partido Socialista com os seus 40 por cento de votos, o PPD, com os seus 27 por cento, constituem a maioria, comete um erro. Eles não têm a maioria (…) Estou a dizer que as eleições não têm nada, ou muito pouco, a ver com a dinâmica revolucionária (...) Se pensa que a Assembleia Constituinte vai transformar-se num Parlamento comete um erro ridículo. Não! A Constituinte não será, de certeza, um órgão legislativo. Isso prometo eu. Será uma Assembleia Constituinte, e já basta (...). Asseguro-lhe que em Portugal não haverá Parlamento (...) Nós, os comunistas, já tínhamos afirmado aos militares que o PPD não devia estar presente [nas eleições], que não se podia conduzir o país ao socialismo por meio de uma ampla coligação democrática. Mas eles quiseram juntar socialistas, comunistas, sociais-democratas e as diversas correntes do MFA... Tínha-mo-los avisado de que as eleições constituíam um perigo, que eram prematuras, que se não se tomassem precauções as perderíamos (…) Democracia para mim significa liquidar o capitalismo, os monopólios. E acrescento: não existe hoje em Portugal a menor possibilidade de uma democracia como as da Europa Ocidental”.
Quando se apoderaram da revolução, os comunistas não queriam a democracia, queriam voltar o regime ao contrário e durante algum tempo conseguiram-no.
O 25 de Abril não foi a revolução da liberdade nem da democracia. A democracia instalou-se contra a vontade de muitos e ainda hoje temos de lutar para a manter em toda a sua plenitude. Em relação à liberdade apercebemo-nos que a luta ainda não está ganha quando vemos os atentados à propriedade privada; quando uma pessoa não pode dispor da sua propriedade mais íntima, o seu corpo, para doar órgãos, abortar, prostituir-se ou morrer sem dor; quando o estado regula pormenores mais ínfimos da vida privada desde o tipo de contrato de trabalho que estabelece, até ao número e sexo das pessoas com quem o indivíduo quer ter uma vida em comum.
O regime caiu naquilo que se convencionou chamar a revolução da liberdade. Muitos pensaram que seria, efectivamente, a revolução da liberdade e da democracia, mas cedo se concluiu que aqueles que tomaram a revolução para si pouco sabiam de liberdade e não gostavam de democracia.
A liberdade surgiu, sim, mas só para alguns. Os anos que se seguiram à revolução foram de perseguições tão más ou piores do que aquelas que tinham sido feitas durante a ditadura. A revelação dos nomes dos informadores da PIDE provocou uma chacina em muitas zonas rurais e mesmo aqueles que mais tarde vieram a provar-se inocentes tiveram a sua vida arruinada. Os que de alguma forma tiveram sucesso antes de Abril foram perseguidos, chamados de fascistas, nem Amália Rodrigues escapou. Entre os empresários havia muitos que tinham enriquecido graças ao regime, mas muitos também pelo seu trabalho e parcimónia:todos acabaram expulsos do país, expurgados da sua riqueza. Nos meses seguintes à revolução o país viu sair os melhores gestores e técnicos, aqueles que podiam dar um rumo ao país, criar alternativas. O resultado foi que em 1976 o país estava muito mais pobre e a classe operária iria reparar que apesar de receberem muito mais, podiam comprar muito menos.
Quanto ao sentido de democracia de quem se apoderou da revolução, penso não haver grandes dúvidas. Em entrevista a Oriana Falacci, Álvaro Cunhal disse (entre outras coisas): “Nós, os comunistas, não aceitamos o jogo das eleições (...) Se pensa que o Partido Socialista com os seus 40 por cento de votos, o PPD, com os seus 27 por cento, constituem a maioria, comete um erro. Eles não têm a maioria (…) Estou a dizer que as eleições não têm nada, ou muito pouco, a ver com a dinâmica revolucionária (...) Se pensa que a Assembleia Constituinte vai transformar-se num Parlamento comete um erro ridículo. Não! A Constituinte não será, de certeza, um órgão legislativo. Isso prometo eu. Será uma Assembleia Constituinte, e já basta (...). Asseguro-lhe que em Portugal não haverá Parlamento (...) Nós, os comunistas, já tínhamos afirmado aos militares que o PPD não devia estar presente [nas eleições], que não se podia conduzir o país ao socialismo por meio de uma ampla coligação democrática. Mas eles quiseram juntar socialistas, comunistas, sociais-democratas e as diversas correntes do MFA... Tínha-mo-los avisado de que as eleições constituíam um perigo, que eram prematuras, que se não se tomassem precauções as perderíamos (…) Democracia para mim significa liquidar o capitalismo, os monopólios. E acrescento: não existe hoje em Portugal a menor possibilidade de uma democracia como as da Europa Ocidental”.
Quando se apoderaram da revolução, os comunistas não queriam a democracia, queriam voltar o regime ao contrário e durante algum tempo conseguiram-no.
O 25 de Abril não foi a revolução da liberdade nem da democracia. A democracia instalou-se contra a vontade de muitos e ainda hoje temos de lutar para a manter em toda a sua plenitude. Em relação à liberdade apercebemo-nos que a luta ainda não está ganha quando vemos os atentados à propriedade privada; quando uma pessoa não pode dispor da sua propriedade mais íntima, o seu corpo, para doar órgãos, abortar, prostituir-se ou morrer sem dor; quando o estado regula pormenores mais ínfimos da vida privada desde o tipo de contrato de trabalho que estabelece, até ao número e sexo das pessoas com quem o indivíduo quer ter uma vida em comum.
A luta pela liberdade adivinha-se longa e hoje, como há 32 anos, tem os seus obstáculos, os conservadores, aqueles que beneficiam do regime. O 25 de Abril não foi a revolução da liberdade nem da democracia mas instalou o caos que nos viria a colocar no caminho para as conseguir e, por isso, merece celebração (sem cravos).
Sem comentários:
Enviar um comentário