Keynes à Sócrates
Dizia-se no blog do MLS assim, já fora do âmbito do post original:
Hugo Garcia: (...) faz sentido aplicar medidas keynesianas no sentido do que foi o New Deal.É a este último comentário que respondo.
João Pedro Moura: As tuas ideias sobre promoção de desenvolvimentos, baseadas no New Deal, são inatacáveis. E certamente que o Miguel e a generalidade dos liberais, incluindo eu, partilharão. (...)
Eu repliquei: ...diga lá outra vez? (JPM reiterou; eu disse que cada um é liberal como bem entende.)
Willespie: Não sendo nenhum especialista na matéria acho que hoje tudo que não seja neoliberal, liberal-clássico ou até anarquísta terá forçosamente de passar por algum Keynes. (...)
Willespie: Acho o teu comentário muito bom principalmente porque está cheinho de bom-senso (sem ironia) que é coisa que não abunda no blog do MLS.
Uma coisa é adoptar políticas e concepções. Outra é retirar as lições devidas. Keynes e o New Deal vai no mesmo: tem coisas boas e coisas más. Ao que sei, os liberais da altura diziam que o New Deal até foi mau porque sem ele a economia crescia mais depressa; alguns iam ao ponto de dizer que foram as próprias políticas anteriores que causaram a depressão.
Mas o exemplo está aí: Otas e TGVs. O que vejo é um keynesianismo à Sócrates que é, efectivamente, socialista porque pretende redistribuição de riqueza (legítimo para mim desde que se compreenda de onde radica e não por uma questão de "igualdade"). Projectos como a Ota e o TGV (os mais emblemáticos) distribuem riqueza indirectamente ao gerar emprego, injectar dinheiro na construção civil (que por sua vez alimenta muitos empregos e não "pode", nesta visão, ser melindrada) e criar equipamento social.
O problema é que:
- não é justo. Porque é que a construção civil deve ser subsidiada e outras actividades não, eventualmente até mais valorizadas socialmente?
- há formas melhors de o fazer
- neste caso é um genuíno tiro no pé pq canibaliza a economia (ex: o aeroporto do Porto refila com razão, aeroporto a 50km da cidade, ...) e cria um equipamento social que ninguém quer.
Sem querer discutir as Otas e os TGVs, são exemplos de práticas que o sec XX provou que não dão resultados, salvo um paradigma comunista (igualdade a todo o custo).
Na prática: Keynes NÃO é liberal. Agora se o liberalismo da altura (1929!) não sabia dar resposta à situação é outra conversa. E neste sentido eu talvez (não sou especialista nisso) defenda o New Deal em 1929 porque outra alternativa era o laissez-faire selvagem que ainda era pior.
Mas hoje há outras formas de se domesticar a economia.
1 comentário:
Não me considero atingido por esse último parágrafo, até porque estou plenamente de acordo com os comentários do Vítor Jesus e Cirilo Marinho.
Acrescento apenas que sou a favor e considero essencial a existência de um sistema social de estado, mas de um que actua como um último recurso eficaz para quem não tem recursos que permitem procurar soluções privadas. Ou seja, um sistema em nada semelhante ao que existe actualmente em Portugal.
Alias... o melhor programa social que existe é um emprego.
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