liberalismo: ética por omissão vs projecto político
(nota inicial 1: isto não é um ensaio académico sobre qualquer tipo de liberalismo; é sobre o liberalismo que infiro de conversas de cafés ou blogs)
(nota inicial 2: só leio um blog qdo tem de ser)
1. o Liberalismo (com Lê-grande) derivado não dos livros mas das conversas de café, depurado pelo denominador comum quando mais de 3 pessoas se encontram, parece centrar-se nas liberdades individuais versão "não me incomodem enquanto eu não incomodar ninguém". Daqui surgiria metade da "doutrina".
2. O outro pilar parece advir da "sacralização" do Mercado como o espaço por excelência onde se exercem as liberdades individuais que já incomodam. Invocam-se as ideias de concorrência e de mérito como as forças que estabilizam (e apenas isso) o espaço comum. Daqui surgiria a outra metade da "doutrina".
3. A "doutrina" assim construída seria o suficiente para derivar uma série de condições cujo objectivo será o de estabelecer as cláusulas da habitabilidade colectiva (e não mais do que isto). Daqui saem figuras como o Estado mínimo (não impôr comportamentos) e o Estado de Direito (resolver os conflitos por mediação).
Não há por aqui uma certa concepção (minimalista) de sociedade como entrave às liberdades? Uma espécie de cant-live-with-them-cant-live-without-them ou mal menor? Pondo-lhe um nome feio: uma espécie de anarquia regulada. Ainda pior, numa espécie de existencialismo autocarro-cheiro-de-sovaco, a sociedade é a soma numérica dos indivíduos que se acotovelam.
Isto pq eu envision (tradução?) a sociedade como um corpo vivo, autónomo, "pensante" e evoluindo. Dito de outra forma: ainda assumo (como, p.ex. qualquer comunista assume), que existe uma sociedade "perfeita" e que o propósito de qualquer sistema político é chegar lá.
Mas não envision o Liberalismo como um mero contrato entre condóminos (onde o Estado é observador) onde meramente que se especificam as condições de habitabilidade.
Já agora,
- eu não sei o que é uma sociedade perfeita
- não perco tempo a pensar nisso
- nem preciso de o saber
Mas cada vez mais vou sabendo o que não é uma sociedade perfeita. Portanto, não peguem por aqui sff.
2 comentários:
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Caro Vítor Jesus,
Repare que escreve duas frases consecutivas completamente incompatíveis.
"Isto pq eu envision (tradução?) a sociedade como um corpo vivo, autónomo, "pensante" e evoluindo."
"Dito de outra forma: ainda assumo (como, p.ex. qualquer comunista assume), que existe uma sociedade "perfeita" e que o propósito de qualquer sistema político é chegar lá."
Diz que a sociedade é "pensante", e no sentido lato, é-o. Obviamente que não tem um fim comum, daí equiparar-se a uma ordem espontânea. Mas depois condiciona a sua evolução aos ditames utilitaristas de um poder político...
Opa... a frase "qq comunista"... já sabia que ia dar problemas. Eu não partilho, de todo, dos ideais comunistas, embora extraia dele valiosas lições teóricas e práticas.
O que digo é que admito que a sociedade perfeita existe (numa perspectiva evolutiva) tal como comunismo admite. É neste sentido que considero que o meu Liberalismo é um projecto político e não uma ética por omissão.
Talvez a grande diferença seja o seguinte:
- o comunismo tenta modelar e impôr por coacção uma certa visão de sociedade
- eu vejo a evolução como fruto de uma certa ordem espontânea derivada da interacção mais ou menos anónima das pessoas "cá em baixo" (por oposição a directórios).
Admitir que essa sociedade existe não implica que saiba como é. Um dos principais erros dos socialismos (genéricos) é tentar, via Estado-pessoa-de-bem, impôr modelos de sociedade: comportamentos, valores, visões, papeis, etc...
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