2006/03/07

Geminação

Manuel Monteiro achou por bem vir anunciar em coluna no seu Democracia Liberal as cinco diferenças que segundo ele "sem ambiguidades", justificariam um "clara separação de águas" entre a Nova Democracia e o seu antigo partido, o CDS, num exercício que promete alargar aos demais partidos. A saber, essas cinco diferenças seriam:

1. A Nova Democracia é, no plano europeu, defensora dos Estados – Nação (é soberanista) e por isso nunca aceitaria estar inscrita no Partido Popular Europeu; o CDS é membro activo deste Partido pelo que, directa e indirectamente, está comprometido com o pensamento federal.

2. A NovaDemocracia considera que a interrupção voluntária da gravidez é antes de mais uma questão individual, pelo que não adopta sobre o assunto, enquanto partido, uma posição formal, deixando isso ao critério de cada um dos seus membros; o CDS, fiel aos princípios da Doutrina Social da Igreja, tem nesta matéria uma posição oficial, manifestando-se enquanto partido pelo não ao aborto.

3. A NovaDemocracia é defensora do Presidencialismo, considerando que essa mudança no sistema de governo é fundamental para o reforço da estabilidade e da clareza nas relações entre os eleitos e os eleitores; o CDS advoga o semi – presidencialismo (ou seja a manutenção do actual sistema).

4. A NovaDemocracia é defensora da total liberdade de circulação de pessoas, capitais e mercadorias entre países livres e democráticos, defendendo, como princípio político, a manutenção de barreiras alfandegárias para os países cujos regimes não sejam democráticos; o CDS concorda com a evolução do comércio tal como definido pela OMC (Organização Mundial de Comércio).

5. A NovaDemocracia é defensora da Taxa Única ao nível do IRS; o CDS mantém a convicção de que a progressividade do imposto, associada a benefícios fiscais mais abrangentes e a deduções à colecta mais extensas, garante objectivos de justiça fiscal.
Sinceramente, a escolha de assento no Parlamento Europeu (e de pertença a alegados "partidos" Europeus sem qualquer matriz ideológica), o afirmar de uma não-posição sobre o aborto, a defesa do presidencialismo e do "proteccionismo democrático" e a defesa de uma flat rate limitada ao IRS parece-me muito pouco. Muito pouco para justificar um partido que se apresenta como "vizinho" em termos de espectro político do seu anterior partido, e pouco trabalho para um partido já com alguns anos no terreno, e que algum dia se apresentou como próximo do liberalismo. Tal pobreza de posições torna difícil de compreender que se tenha achado algum dia que não era possível efectuar essas mudanças no interior do CDS, e em vislumbrar e conceber a Nova Democracia para além de um projecto pessoal de poder por fragmentação da quota de mercado.

3 comentários:

Anónimo disse...

Honestamente não consigo perceber o que é que indivíduos que se consideram verdadeiramente Liberais perdem tempo a ponderar possíveis simpatias com partidos manifestamente conservadores e de direita.

JLP disse...

Caro anonymous,

A simpatia não é muita, nem sequer pessoalmente possível. Mas tendo sido o rótulo de "liberais" invocado aquando da sua fundação pela Nova Democracia, é natural que se venha, por motivos higiénicos, tentar ver onde vão parando os actos de quem o reclamou.

Chame-lhe, se quiser, um momento em prol da defesa do consumidor.

Vítor Jesus disse...

Não concordo assim tanto. Só o facto de o CDS/PP estar próximo da Igreja é um fosso. Para mim era eliminatório logo à partida.