2009/09/14

debate MFL/JS

Vi o debate apenas ontem à noite e tenho de confessar que há menos um
indeciso no eleitorado. Não sou eu.

Por pontos, por nenhuma ordem em especial e tentando ser o mais
imparcial possível:

- É abissal a diferença de postura entre José Sócrates (JS) e Manuela
Ferreira Leite (MFL): uma é estadista, outro acorda a pensar em
"medidinhas"; uma discute política de alto nível, outro distribui
rebuçados; muito pessoalmente, um é apoucado porque até chega a dar a
sensação de que nem percebe aquilo que diz, outra é excessivamente
confiante.

- a saída do "orfão" de MFL roça o mau gosto; mas ficou-lhe bem pela
espontaneidade e despreocupação com que diz estas coisas. MFL não quer
agradar a ninguém; JS só quer agradar.

- JS vinha preparado para discutir o programa do PSD. MFL vinha
preparada para responder às perguntas. Deu a sensação de que não se
preparou como se achasse (como disse ao principio) que a sua vida
politica, profissional e pessoal foi um treino para o que aí vem.

- Curiosamente, e não tinha pensado nisto até ler este post do Rodrigo
Adão da Fonseca no Jamais, o programa do PSD está a ser dos mais
analisados; já o do PS, à excepção da ridícula medida dos 200eur por
bebé e os TGVs, ninguem sabe muito bem o que lá anda. No fundo é
perigoso, e os outros partidos, particularmente o PSD, deveriam fazer
este trabalho.

- A resposta à questão da dupla candidatura de Alberto João Jardim
convenceu-me. De facto, quem dali sair primeiro ministro, não irá ocupar
um lugar de deputado. Já a questão de António Preto continua a ser uma
pedra no sapato.

- Muito francamente, não consigo ver MFL a fazer melhor na Educação.
Aliás, imgino-a altiva e arrogante, estoicamente ignorando tudo e todos
e com guerra civil à porta. Pior: MFL cultiva esta ideia de não ceder à
opinião pública até ao limite do irrazoável.

- Sócrates atacou, atacou, atacou; MFL não defendeu, limitou-se a
responder às perguntas e a esclarecer com a calma de quem não tem nada a
esconder. Diria mesmo: com a calma de de quem vê em JS (no mínimo) um
neto que não sabe o que diz nem o que faz.

- A questão, logo à partida do "nós não combinamos falar disso" (ou
coisa assim) teve muita piada.

- Desmistificou-se a privatização do SNS (em certa medida) e outras
inverdades. Curiosamente, MFL teve uma saída com a qual concordo: a
estratégia do PS parece ser a de criar FUD (Fear, Uncertanty and Doubt).
Qualquer coisa como "Tenham medo, muito medo, desta direita que quer
destruir o Estado Social e privatizar até as pedras da calçada."

- Quanto à questão das mudanças de opinião de MFL, há dois aspectos.
Efectivamente, MFL mudou de opinião e explicou que contextos diferentes
exigem medidas diferentes. É verdade, embora tenha soado a frágil. Em
segundo lugar, tive a clara sensação de que MFL iria dizer, a qualquer
momento, que não se respnsabilizava pelo governo de Durão Barroso. Quase
o fez, quando disse que "eu nunca fui primeira-ministra".

- Já a questão dos espanhois e do TGV foi uma surpresa para todos. A
julgar pelas reacções do outro lado da fronteira, a carapuça serviu. Já
quanto às portagens nas SCUTs, a explicação de que agora não adianta
nada não encheu.

- De forma geral, pareceu-me ter sido o confronto entre uma máquina
eleitoral e a espontaneidade. De um lado, uma senhora que tanto se lhe
dá como se lhe deu ser eleita; do outro, o desespero de alguém que vive
de votos e se alimenta de poder.

Sim, isto é o mais imparcial que consigo ser.

(também no Novo Rumo)

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