2009/07/26

mediocridade, campanha de carácter, afinações

Parece-me compreensivel a falta de programa do PSD até agora. É que, dentro da mediocridade da política portuguesa, Manuela não tem nada de realmente novo para propor. É, essencialmente, mais do mesmo. As contas públicas são um bom exemplo da falta de assunto: MFL, no poder, faria exactamente a mesma coisa, salvo TGVs e PMEs.

Mas convenhamos: é tudo a mesma coisa. São duas personalidades que já estiveram no poder, já se sabe o que pensam, e mais 2% de segurança privada menos 2 biliões em pontes sobre o Tejo, é sempre a mesma coisa.

São eternos governos de microgestão que acham que, no essencial, Portugal até está "benzinho", restando apenas afinar.

Aliás, dentro desta mediocridade, Sócrates até foi um bom primeiro-ministro: pôs o défice bem abaixo dos 3% (a questão do défice em 2009 não colhe, como o PR disse na Áustria), quase criou 150 000 empregos, está alinhadíssimo com a Europa (fez o que todos os governos europeus fizeram em relação à crise, impulsionou o Tratado de Lisboa), atirou dinheiro para cima de pobres (estatisticamente, e nada mais, reduzindo a pobreza), reduziu listas de espera em hospitais e fez efectivo enforcement da regra 1:2 na contratação pública. Finalmente, na educação aproximou-se de algo que se pode já chamar de reforma. Correu mal, mas não só merece louvores como é preciso reconhecer que apenas a firmeza de um Sócrates com síndrome de Narciso poderia aguentar 4 anos de manifestações, Carvalhos da Silva e FNEs.

Que fique claro que nao estou a fazer um elogio a Sócrates; a defender um ou outro, falo-ia primeiro a Manuela, até porque tenho tendencia para votar à direita.

Para outro exemplo: alguém acredita que Sócrates ou Manuela vão mudar os pilares da Justiça? Não vão, vão apenas criar novos mapas judiciais, abrir mais vagas para juízes, promover o uso da pulseira electrónica em vez de prisão preventiva, etc. Nada de realmente novo, apenas ajustes.

É dentro desta perspectiva que a campanha se vai centrar em questões de carácter. Não há mais nada para discutir. Quem é que precisa de programas para isto? Manuela sabe isso e disse-o, o que só lhe dá credibilidade, paradoxalmente. É infeliz, mas valha-nos a honestidade.

Uma é merceeira, o outro é Narciso. Os religiosos votam em Sócrates, os poupadinhos votam em Manuela. Ou seja, a questão é escolher o menos mau e o que inspira mais confiança em termos de confiança política e coerência de execução de políticas medíocres. E aqui dou uns pozinhos adicionais a Manuela que me parece que veste a camisola da selecção e não quer mais nada do que deixar a sua marca num país melhor(zinho).

E depois queixem-se que o BE consolidou os dois dígitos. Ao fim de 30 anos de ténis em terra batida, a ver a bola andar de um lado para o outro, as pessoas vão ao bar e já não saem de lá.

Sem comentários: