2009/05/28

Vital Tiro-no-pé Moreira

Tenho de concordar. O que parecia ser uma grande aposta estratégica de Sócrates: puxar à esquerda onde estão muitos votos perdidos, com um candidato ex-PCP, com mérito intelectual e (diz-se, nem sei bem) com ideias claras sobre a Europa (sobre a Europa basta ter ideias, ninguém quer muito bem saber quais são).

O problema é que virou tudo ao contrário. Ainda que esteja fora e não consiga perceber bem como está a decorrer a campanha, Vital foi um tiro no pé: à Esquerda é um traidor, à Direita é comunista; ao vivo não diz nada de jeito, por escrito ninguém o lê; na TV o Rangel dá cabo dele, na rua fala de penteados.

A primeira surpresa [desta campanha eleitoral] veio das sondagens. Ninguém esperava o empate técnico entre os dois maiores partidos. Ora nas sondagens, tal como na Bolsa, mais do que as cotações diárias, interessa a tendência de fundo e, neste caso, verifica-se uma subida progressiva do PSD que deixa tudo em aberto para as eleições de 7 de Junho.
A segunda surpresa chama-se Vital Moreira. Já não é apenas a fraca prestação nos debates. Vital parece deslocado, fora de contexto. Apesar de brilhante, a sua pose professoral (estilo “lente” de Coimbra) não entusiasma ninguém. É visto à esquerda como um “traidor”, como se viu no triste episódio do 1.º de Maio. E à direita como ex-comunista da linha dura. Até mesmo os socialistas têm dificuldade de o ver como um dos “seus”.
(Paulo Marcelo, O Cachimbo de Magritte)

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