2008/03/18

Um Local muito mal frequentado chamado Lisboa



O Live Maps da Microsoft revela novas potencialidades. Um mapeamento mais completo que o Google Earth. E sobretudo a nova funcionalidade Bird View com alta definição nos pormenores locais. Teremos agora a possibilidade de ver as misérias mais de perto. Aqui fica a fachada Oeste do Palácio da Ajuda, inacabada há mais de um século, sem qualquer possibilidade de remate à vista. Este é o retrato espantoso das prioridades da gestão camarária de Lisboa. O património histórico largamente abandonado, enquanto os fundos são desperdiçados numa máquina burocrática inútil.

Para encher a vista lançam-se grandes projectos de revitalização de espaços cuja ruína teve como principal responsável a própria gestão da câmara, acrescida da política de rendas baixas. A baixa pombalina é disso o melhor exemplo. É nela proibido por um prego ou dispor de edifícios ocupados há gerações por ocupantes que não pagam.

A CML é devido a razões histórias (nacionalizações republicanas) o maior proprietário. A alienação de terrenos em vez de ser devidamente aproveitada, tem sido feita de modo duvidoso, desde permutas ruinosas que deram origem a processos crime movidos contra antigos autarcas, passando pela construção em terrenos camarários de apartamentos vendidos muito abaixo do preço através da EPUL. Os beneficiários dessas casas baratas acabam por ser alguém próximo daqueles que detêm o poder. Veja-se as notícias recentes de atribuição arbitrária de casas camarárias à amiga recém-divorciada e ao motorista.

Chegou-se à loucura de construir um casino em plena capital. As verbas, em vez de servir para sanar a dívida financeira da cidade servirão para a construção de um elefante branco que será um remake daquilo que foi um bairro artístico dedicado a um modelo esgotado chamado teatro de revista. Esse tipo de espectáculo decaiu por falta de procura, e sobrevive hoje residualmente e por vezes apenas injectando verbas estatais. Os lisboetas não precisam de um parque Mayer, mas os nossos governantes tornaram-se especialistas em desperdiçar dinheiro. Mesmo em alturas de grande escassez.

A juntar à má gestão e aproveitamento pessoal às claras, os contribuintes terão de pagar os juros do dinheiro mal gasto. António Costa afirma teimosamente contra tudo e todos, e contra os tribunais que irá contrair uma dívida para pagar a dívida a fornecedores, fazendo com que os lisboetas paguem em 20 anos despesas correntes como o saneamento e os gastos da parque expo deste ano. Mesmo em falência técnica, a câmara tem intenções de criar mais empregos camarários para boys da sua confiança.

A câmara tem imensos recursos para prestar um óptimo serviço: um património imobiliário valioso, receitas do jogo, derramas, contribuições autárquicas e impostos crescentes, licenciamento de construção, parquímetros e avultadas transferências do estado. Todos derretidos impunemente em actividades sem valor.

A população activa da cidade vive na maior parte fora dela, expulsa pela falta de habitação, estacionamento e transportes. Não é de admirar que o discurso eleitoral se vire cada vez mais para uma população envelhecida, inactiva, que aproveita as rendas simbólicas. É cada vez mais o seu voto a decidir os destinos da cidade.

3 comentários:

Nuno D. Mendes disse...

Caro Filipe,

A imagem que mostras diz respeito ao Palácio da Ajuda. O Palácio de Queluz situa-se no concelho de Sintra.

O Palácio da Ajuda é também sede do Ministério da Cultura e propriedade do Estado Central e, consequentemente, a CML não tem quaisquer responsabilidades nessa matéria, como, aliás, na esmagadora maioria dos monumentos nacionais situados em Lisboa.

Há não muito tempo, um responsável governamental, cujo nome me escapa, anunciou a intenção de promover a finalização da ala em falta do Palácio da Ajuda por ocasião de uma pertinente efeméride.

Filipe Melo Sousa disse...

Obrigado pela correcção Nuno. Enganei-me no nome. Já mudei no post original :P

Bem, eu acho inconcebível que não haja obras coercivas para por aquilo em condições. Não sei como raio colocaram a exposição do Hermitage num sítio daqueles. É um cenário que se repete por toda a cidade, enquanto se vê largos fundos enterrados em elefantes brancos.

Anónimo disse...

Ora bem. Já era hora de se dizer algumas verdades em relação à gestão da capital.

Uma cidade cheia de potencialidades contudo o seu futuro adivinha-se triste.

É a cidade dos "tachos e panelas". A CML delega várias funções nas suas Empresas Públicas que não servem para nada. Aliás, servem para alimentar os interesses dos amigos e afilhados do Costa.

Vejam o que diz Manuel Monteiro acerca das Empresas Públicas, a partir do minuto 2: 17 min.: http://www.youtube.com/watch?v=sBlMMBA3SAc&feature=related

Abraço.