Angola - Mesmo no caminho
Caro João,
Escrevi acerca de tendências. E não retiro uma palavra ao que escrevi. Conheço razoavelmente Angola. Fui lá e vi muitas coisas em primeira mão.
Angola já foi mais a “companhia limitada” que falas. Não digo que não continue a sê-lo. A economia continua controlada pela oligarquia, mas cada vez menos. Não quer dizer que não continue muito, apenas cada vez menos. A oligarquia está cada vez mais rica, mas a sua riqueza tem cada vez menos peso na economia como um todo.
Existe de facto liberdade para se desenvolver actividade empresarial. As indústrias petrolífera e de extracção diamantífera são controladas. O resto não. E só por não ser dinheiro fácil e rápido, não significa que não estejam lá e que sejam apetitosas. E estão ao alcance de todos os Angolanos e cada vez mais de qualquer indivíduo que queira fazer lá negócio.
Existe menos e menos corrupção. Em particular, existe menos extorsão. Há um ano atrás a regra nas forças de segurança (polícia) era: “a gasosa é o entendimento entre o policial e o cidadão”, regra emanada pelo responsável máximo da polícia. Há pouco tempo saiu uma directiva em Luanda, do novo responsável pela polícia. Polícia apanhado a pedir ou a receber “gasosa” está fora da corporação. Durante os últimos meses a organização da polícia civil mudou muito. A base foi aumentada e entraram muitos, mas muitos, novos polícias com educação de secundário. Estive duas semanas em Angola e fui parado por polícias 5 vezes. Nem uma “gasosa”, e quem me dera ser tratado de forma tão profissional aqui em Portugal. Tive sorte, nem sempre é assim. Mas manifesta a tal tendência.
Indo directamente a um dos teus parágrafos. Antes as forças de segurança estavam apenas preocupadas com a segurança do estado e dos seus agentes. O Estado tinha pouca preocupação em garantir a segurança dos indivíduos perante outros indivíduos, menos ainda perante o Estado e governantes. A tendência na alteração desta postura é real. Se não for assim a economia não cresce e há menos negócio. Os grandes negócios são controlados. Com certeza. Antes também o eram, mas eram menos negócios e eram controlados por menos dirigentes. E hoje há muito negócio que escapa completamente à camada superior de governantes. Mais uma vez escrevo sobre tendências.
Em um país com elevado risco político e risco civil, como é o caso da maior parte da maior parte dos países Africanos, não existe sentido económico para investimentos de longo prazo sem o compadrio com os poucos dirigentes capazes de controlar esse risco político. Esta é uma regra que foi entendida pelos governantes Angolanos, que como explicava no outro post são neste momento os principais interessados em que a economia de mercado floresça. Angola tem vindo a ter o risco político e social a ser diminuído e muitas empresas já o perceberam e estão a ganhar muito com os investimentos efectuados e outras estão a seguir os passos. Sem compadrios nem “5%’s”. Mais uma vez, nem no petróleo nem nos diamantes.
Por ainda não existir um verdadeiro estado de direito nem uma democracia constitucional de facto, não significa que a tendência não seja de aumento da garantia dos tais direitos. Independentemente do que se vive hoje. E sobre isso estamos todos de acordo. Onde não estamos todos de acordo é no caminho que Angola está a tomar. Que não é o melhor caminho estamos de acordo. Pessoalmente defendo que o caminho não sendo o melhor é pelo menos bom.
Para deixar claro. Não defendo o regime Angolano. Defendo que o que se está a sentir é uma tendência de evolução brutal e no bom sentido. Independentemente de onde se está hoje e da avaliação desse estado de situação.
Dei-me ao trabalho de escrever este post exactamente porque o que se assiste hoje é um ataque muito mais forte ao regime Angolano e ao que está a ser feito por lá do que aquele que se fazia sentir há 10 anos atrás. E porquê? Acredito que por se estar a desmantelar um estado totalitário e colectivista, construído à imagem de Cuba. Mesmo que pelo caminho Angola passe por fases longe do que será uma República Constitucional, está a fazer um caminho no bom sentido. Mesmo que esse desmantelamento leve muitos e muitos anos a ser feito.
4 comentários:
Na edição desta semana de The Economist está um artigo em que se diz que os dirigentes angolanos fizeram um estudo sobre as capacidades de produção petrolífera do país e verificaram que essa produção começará a decrescer já a partir de 2010. E estão preocupados com tal perspetiva.
Independentemente de ser ou não verdade que a produção petrolíferá decrescerá a partir de 2010, acho notável que os dirigente angolanos estejam a estudar esta situação e a preparar-se para ela. Mostra uma capacidade reslista de prever o futuro e de se preparar para ele, que nem sempre está presente em países que vivem essencialmente à custa de recursos naturais.
Luís Lavoura
Na aldeia de onde o meu pai era originário, algures em Portugal, foram recentemente alguns indivíduos para trabalhar em diversas empresas em Angola. Um deles, um primo meu que era contabilista lá na aldeia, arranjou emprego como contabilista de uma grande empresa com negócios em Angola, e foi para lá. O que eu quero dizer com isto é que Angola voltou a ser um país de emigração para os portugueses; cada vez mais portugueses estão a ir para lá. É que lá a economia está a crescer muito, cá não.
Luís Lavoura
Caro LL,
O último número que ouvi foi 40.000 portugueses a trabalhar lá. Número não oficial por causa da situação rídicula dos visto de trabalho. Acredite que vai continuar a ver um fluxo cada vez mais forte.
Ricardo
Lisboa mandou um telex para o Instituto de Meteorologia e Geofísica de Luanda avisando:
1 - MANIFESTAÇÃO SÍSMICA. STOP.
2 - 7 DE RICHTER. STOP
3 - EPICENTRO A 3 KM DE LUANDA.STOP
4 - TOMAR PRECAUÇÕES. STOP
Dois meses mais tarde respondem de Luanda:
1 - OBRIGADOS CAMARADAS PELA VOSSA COLABORACAO...! MANIFESTAÇÃO FOI TRAVADA !
2 - LIQUIDAMOS OS 7, MAIS NAO APANHAMOS O RICHTER.
3 - O EPICENTRO E SEUS CAPANGAS ESTÃO DETIDOS. VAO SER FUZILADOS AMANHA.
4 - DESCULPEM NÓS SÓ AGORA RESPONDER, MAS HOUVE AQUI UM TERRAMOTO QUE IA DANDO CABO DESTA GAITA TODA.
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