2007/10/29

Separação entre Estado e religião

Nada tenho contra a religião em geral e menos ainda contra a Igreja católica em concreto, porém, a defesa da liberdade religiosa é incompatível com a não separação entre o poder do estado e uma qualquer religião.A Igreja Católica é o exemplo de uma oligarquia não nepótica muitíssimo hierarquizada. Nada a opor a esta organização de poder desde que exista livre associação e dissociação. Existirá livre associação e dissociação enquanto existir separação entre o poder coercivo do estado e a religião. O fundador da Igreja Católica já o dizia: "a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". E o meu entendimento é que não se referia ao dízimo.

Lembro-me destes temas devido a mais um post "interessante" do Prof. Pedro Arroja. Tendo em mente a definição de Igreja tal qual me a ensinaram, que inclui toda a comunidade de crentes comento o post "Sociedade Livre":


Representatividade e eleição (democracia);
A única eleição que existe é sobre o líder máximo da hierarquia, o Papa. Convêm lembrar que o direito de voto nesta eleição é conferido por nomeação dos anteriores Papas. Historicamente este formato de eleição foi utilizado para a perpetuação de poder dentro do mesmo grupo. A oligarquia dentro da oligarquia.

Ausência de órgão legislativo;
A palavra do Papa é lei. Pode fazer tudo dentro da sociedade, sem restrições ou limites. Um poder que pode ser usado conforme a vontade do eleito. Goste-se ou não goste-se das leis e regras criadas ou alteradas ao longo da história da Igreja um facto é que elas existem.

Abertura e meritocracia;
A abertura é limitada pelo entendimento e avaliação da própria hierarquia. Para a base estão todos convidados, se aí em diante não. Não é novidade em uma sociedade oligárquica e hierárquica. O poder é atribuído dependendo da hierarquia superior. Um dos critérios de atribuição poderá ser o mérito. É uma possibilidade, não uma regra. Outro critério pode ser a velocidade a rezar Avés-marias ou a capacidade para angariar fundos. A hierarquia tem o poder de decidir o critério.

Descentralização e governo local;
Não existe autonomia nem decisão descentralizada. A história da Igreja Católica foi feita com cisões devido a ensejos de autonomia. Qualquer pequeno desvio pode implicar a expulsão. Também pode não o implicar. No limite tudo pode depender da hierarquia.

Autoridade e hierarquia;
Sem dúvida. Sujeição ou exclusão.

Ausência de poder arbitrário;
Por definição o Papa tem poder arbitrário dentro dos limites dos poderes legais desta sociedade que são diferentes de país para país.

Tradição;
Sem dúvida.

Justiça humanizada;
Se por justiça humanizada se entender que a justiça dentro da Igreja é feita por seres humanos, é verdade.

Assistência aos pobres,
Sem dúvida. Entre outras voluntárias bem feitorias.

Igualdade de tratamento.
Por definição não é verdade. A igualdade de tratamento perante Deus não implica a igualdade de tratamento perante a Igreja. Na prática a igualdade de tratamento é sempre difícil senão impossível. No campo das intenções não é essa a doutrina da Igreja. Dentro da hierarquia da Igreja indivíduos diferentes têm liberdades e deveres diferentes. Existe discricionariedade cujo melhor exemplo é a possibilidade do Papa de fazer o julgamento que quiser sobre qualquer caso.

1 comentário:

Pedro disse...

"O fundador da Igreja Católica já o dizia: "a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". E o meu entendimento é que não se referia ao dízimo."

Seja para César ou seja para Deus, o que é certo é que o dízimo ficou e aumentou para "trízimo" e mesmo para "tetrízimo".
Perante esta carga dizimante, questiono-me se os abades não seriam mais porreirinhos...