2007/07/24

Estranha diplomacia

A Diplomacia Venceu
A Chantagem Resultou




460 milhões de dólares pagos pelos contribuintes europeus em troca da libertação de 5 enfermeiras búlgaras detidas pelo regime Líbio. Mais: para além de ceder à chantagem, os negociadores europeus tiveram de se sujeitar a um pedido de desculpas, e reconhecer o veredicto de um julgamento fantoche absurdo, reconhecendo que 5 enfermeiras de nacionalidade búlgara infectaram deliberadamente mais de 400 crianças Líbias com o HIV.

O julgamento fantoche que condenou à morte 5 enfermeiras e um médico búlgaros serviu de bode expiatório para as deploráveis condições sanitárias nos hospitais da Líbia. E como arma de arremesso contra aquilo que os muçulmanos pretendem ser a decadência moral do ocidente, representada pelo HIV.

Vários peritos internacionais como Luc Montagnier (responsável pela co-descoberta do HIV nos anos 80), desmontaram a acusação, atribuindo o foco de infecção unicamente às condições de higiene no hospital de Benghazi. Existem casos de crianças infectadas antes da chegada destes técnicos de saúde à Líbia.

As pretensas confissões de infecção premeditada foram arrancadas sob tortura. Sem presença de advogados, estas mulheres foram obrigadas a assinar um documento em árabe, cujo conteúdo obviamente não entendiam.

I confessed during torture with electricity. They put small wires on my toes and on my thumbs. Sometimes they put one on my thumb and another on either my tongue, neck or ear,” Valentina Siropulo, one of the Bulgarian defendants, told Human Rights Watch. “They had two kinds of machines, one with a crank and one with buttons.”
Another Bulgarian defendant, Kristiana Valceva, said interrogators used a small machine with cables and a handle that produced electricity. “During the shocks and torture they asked me where the AIDS came from and what is your role,” she told Human Rights Watch. She said that Libyan interrogators subjected her to electric shocks on her breasts and genitals. “My confession was all in Arabic without translation,” she said. “We were ready to sign anything just to stop the torture.”
Os países Europeus perderam a face durante as "negociações" para a libertação dos reféns. Se por um lado foi conseguida a libertação dos cidadãos búlgaros em troca de um resgate e um compromisso de injectar dinheiro para melhorar as condições do hospital onde se deram as infecções, não deixa de ser menos verdade que o veredicto de culpado permanece para a "justiça" líbia. A pena apenas foi comutada em prisão perpétua, e foi de seguida assinado um acordo de extradição para os "culpados" cumprirem a pena nos seus países, fingindo assim os tribunais líbios ignorar o facto que eles seriam amnistiados mal pisassem solo europeu.

Resta referir a posição hipócrita dos pais das vítimas, interessados unicamente em receber um milhão de dólares por cada criança infectada, aceitando assim que os acusados regressem ao seu país de origem para serem amnistiados. Estranha preocupação com a justiça. Estranho direito à indignação. É a noção islâmica de "perdão de sangue".

Acrescento (n'O Público de hoje). A França e a UE agradeceram o gesto humanitário da Líbia, em particular do coronel Muammar Kadhafi.
Ferrero-Waldner em comunicado, à chegada a Sófia:
A extradição "abrirá caminho para uma nova e fortalecida relação entre a UE e a Líbia e reforça os nossos laços com a região mediterrânica e toda a África" .

6 comentários:

SMP disse...

Também acho este caso chocante e também me repugna a hipocrisia que o atravessa. Todavia, Filipe, o problema permanece sempre o mesmo: em obediência a princípios elevados e meritórios, deve-se deixar morrer o ser humano concreto, de mais a mais perfeitamente inocente - a maior vítima do julgamento falseado? E se a tua resposta é sim, não achas que essa decisão não te cabe a ti, mas aos donos das vidas salvas - ou deveria m os países europeus afirmar princípios à custa das vidas alheias?

Filipe Melo Sousa disse...

Sandra, a questão quando colocada dessa forma, já despe de culpa o autor deste embuste e posterior chantagem, tornando-o mero peão perante a decisão do chantageado.

Carlos Guimarães Pinto disse...

Eu estou de acordo com a sandra. penso que a actuação, até agora, da UE foi positiva no sentido em que salvou aquelas pessoas do sistema prisional Líbio. Ir-me-à envergonhar com cidadão europeu se cumprirem aquilo que prometeram nas negociações. A atitude certa agora seria cortar relações definitivamente com aquele país.

redonda disse...

Se serviu para os salvar...Terr�vel seria se por n�o se tentar tudo os matassem.

Anónimo disse...

Compreendo que se tenha feito tudo para salvar os desgraçados que cairam nas garras de Kadaffi.
Mas este ajoelhar da UE perante o regime líbio é chocante. Foi um rapto e um pedido de resgate, nada mais e como tal devia ser tratado.
Já nos esquecemos de que Kadaffi foi o Bin Laden das décadas de setenta e oitenta, época em que promoveu o terrorismo por todo o lado. Até chegar a abater um avião de passageiros sobre a Escócia!
Kadaffi começou por querer ser o líder de uma nação árabe unificada. Quando viu que por esse lado não ía muito longe passou a ser o campeão da unidade africana.
E agoa, não ser porque carga de água, passou a ser um líder respeitado que até é recebido em Bruxelas!
Isto tudo mete nojo.

Anónimo disse...

"E agora, não sei porque carga de água, passou a ser um líder respeitado que até é recebido em Bruxelas!"

É o petróleo. O petróleo líbio fala alto. Não é muito mas, em tempos de escassez, é precioso. Tanto mais que está muito pertinho da Europa, praticamente sob o nosso controle.

Luís Lavoura