2007/06/04

Private Equity (III)

Se há oportunidades por explorar, como é que o mercado bolsista se deixa ultrapassar por estes fundos de Private Equity que de forma deliberada retiram estas empresas do escrutínio, supostamente eficiente e racional, dos mercados financeiros?

Ladrões de Bicicletas.
No seguimento da análise do Ricardo sobre a referida sucessão de artigos, acho que há um ou outro ponto que será interessante e importante de referir.

Um ponto é mais ou menos óbvio: a bolsa de valores, e o mercado financeiro, não são "O Mercado". São tão somente vectores de um mercado livre. Nada obriga, nem cauciona a liberdade do mercado (mesmo que só na sua vertente de mercado de capitais), que uma empresa se faça cotar em bolsa. Aliás, há empresas que fazem gáudio de não dispersarem o seu capital em bolsa, já que anseiam antes por autonomia de gestão e decisão e pela autonomia de planeamento de longo prazo, longe das imposições de divulgação de informação operacional periódica do mercado de capitais. É uma decisão legítima, livre e que só enriquece o mercado, ao diversificar os intrumentos de gestão acessíveis às empresas.

Além disso, há outra questão que importa ponderar. A bolsa, em primeira análise, é tão somente um fórum de troca de autonomia de gestão e de informação previlegiada e operacional da empresa por capital e por dispersão do risco empresarial. Um empresa ofereçe informação, essencialmente, e uma participação no património, nas decisões e uma garantia de partilha do futuro económico da empresa, e em troca recebe o capital disperso (distribuído pelos seus sócios originários) bem como uma participação no risco operacional da empresa. Como na generalidade das transacções num mercado, há claramente uma troca de informação por capital (e genericamente, por risco).

O que sucede, é que o próprio facto de haver essa dispersão do risco, nomeadamente no caso de empresas em que o capital se encontra disperso por vários accionistas, faz com que a atitude empresarial passe a ser bastante mais conservadora, quer pela vontade de obtenção de lucros rápidos quer pela cautela agregada que se manifesta nos processos de decisão da empresa.

Mas, lembre-se, a informação, apesar de mais disponível, não é absoluta. O que acontece é que a ligação entre a decisão de gestão, o acesso à informação e a titularidade do risco dilui-se. Como tal, é natural que se acumulem ineficiências internas, ou mesmo dificuldades de apreensão do real valor da empresa pelo mercado.

Posto isto, é perfeitamente natural que instituições financeiras, com propensão para o risco, utilizem esse factor como maisvalia de gestão. Na prática, o que acontece é uma reversão da troca que presidiu à dispersão do capital em bolsa da empresa que é adquirida por estas empresas. Há uma re-agregação do risco, um restabelecimento de um mecanismo de decisão absoluto e com pleno acesso à ordem interna da empresa. Nada de estranho, num mercado livre e que funcione com pressupostos liberais.

Concretamente em relação às criticas dos artigos em causa, levanta-se ainda outra questão, e constata-se a estranheza: acha-se uma reacção anormal e uma atitude perversa num mercado livre uma empresa adquirir outra, "comprando" o seu valor de mercado e retirando-a de cotação, desmantelando-a e reorganizando-a de acordo com o ganho de informação e de capacidade de gestão adquirido, e ao facto de se re-dispersar as empresas resultantes em bolsa, com ganhos de "4,3 vezes em 20 meses". Mas já não se acha estranho que uma empresa persista com um valor que acaba (por falta de informação) por ser sub-avaliado em relação à realidade efectiva, e por manter uma empresa no mercado alheada da sua verdadeira realidade e potencial, e desprovida de capacidade de atrair investimento fresco que até é capaz de, bem vistas as coisas, cativar.

Ou seja, mercado livre, para alguns, não é um fórum de interacções e de trocas não-coercivas e voluntárias entre indivíduos, mas sim um mecanismo de fazer perfurar o bafio e o alheamente da realidade para onde foram remetidas algumas empresas.

2 comentários:

JoaoMiranda disse...

««Se há oportunidades por explorar, como é que o mercado bolsista se deixa ultrapassar por estes fundos de Private Equity que de forma deliberada retiram estas empresas do escrutínio, supostamente eficiente e racional, dos mercados financeiros?»»

A pergunta é: Se há oportunidades por explorar porque é que os fundos de Private Equity as exploram? De facto é muito estranho.

JLP disse...

Nem mais!