2007/06/04

Private Equities e Adam Smith

Num contexto em que mercados financeiros são tidos como arquétipos da própria ideia de mercado, levantam-se assim algumas questões teóricas
Quais questões exactamente caro Nuno ? O mercado livre, tal como a bolsa, pressupõe o mútuo acordo das partes. Para que exista uma venda, é necessário que o fundo de capitais privados que compra a empresa prefira os seus activos ao dinheiro que tem em carteira, e que os donos da empresa prefiram o dinheiro aos activos da empresa ( e vice-versa no momento em que o fundo revende a empresa em mercado). Logo, é matemático que ambos ficam melhor depois da transacção efectuada. A situação depois da transacção ( e isto é aplicável a todas as transacções em qualquer mercado livre, sejam private equities a comprar empresas ou um de nós a comprar um pacote de leite) é matematicamente superior à que existia antes da transacção, pois cria valor para vendedor e para comprador. Repare que esta conclusão depende tão somente que ambos o façam de livre vontade, não depende de nenhumas considerações sobre o que eu acho que vale a empresa ou da estrutura de endividamento do fundo em questão.
Não existe mais nenhuma questão teórica para quem acredita no funcionamento do mercado para além desta, que foi enunciada por Adam Smith há mais de dois séculos: o comércio cria riqueza, sempre que é feito de forma livre. E reparem na imensa força desta conclusão. Duzentos e tal anos e muitos economistas depois, nunca mais nenhum conseguiu enunciar uma relação tão absolutamente matemática sobre como funciona a economia...

1 comentário:

Anónimo disse...

"esta conclusão depende tão somente que ambos o façam de livre vontade"

Depende também de que ambos (vendedor e comprador) tenham outras opções, realistas. Por exemplo, de que haja compradores ou vendedores alternativos, etc.

Suponhamos que eu estou a morrer de fome e disponho de uma única pessoa que me venda pão. Essa pessoa vende-me pão a um preço exagerado, aproveitando-se do seu poder de monopólio e do meu estado de necessidade. Num tal caso, dificilmente se pode argumentar que eu fico melhor depois da transação do que antes. Isto porque a transação não foi feita, da minha parte, de forma realmente livre, na medida em que eu não tinha opções à disposição.

Luís Lavoura