2007/06/21

O Ouro Renovável, ou o toque de Midas



No Jornal de Negócios hoje:

A forte procura de títulos da sua subsidiária [Martifer] deixa antever um elevado rateio e a venda das acções ao preço máximo do intervalo, pelo que os investidores estão a optar por medidas de recurso, como a entrada/reforço na Mota-Engil para estar exposto à Martifer. (...) "Não sendo possível satisfazer a procura directa, a Mota-Engil acaba por ser uma forma de antecipar a exposição à Martifer" (...) A OPS da Martifer arrancou no dia 11 de Junho e a adesão dos investidores tem sido bastante elevada, tendo já superado em 165 vezes a oferta (...).

Este apetite dos investidores pela Martifer é justificado pelo potencial de crescimento da empresa e, em especial, pela sua aposta nas energias renováveis. (...) "A operação deve realmente estar a despertar muito interesse junto dos investidores e obviamente uma forma de fazer a cobertura é através da Mota-Engil", referiu António Seladas, responsável pelo departamento de análise de acções do Millennium BCP Investimento.

A Mota-Engil controla 50% do capital da Martifer. Com o aumento de capital da sua subsidiária, baixará a sua posição para 37,5%. Tendo em conta a avaliação máxima da Martifer, de 800 milhões de euros, a posição da Mota-Engil na empresa ficará avaliada em quase 300 milhões, o que equivale a 19,5% da capitalização da empresa liderada por António Mota.
Vamos então a contas:

Martifer: 75.000.000 acções a 8,00 € cada
Valor da empresa: 600 M€

Mota-Engil: 204.600.000 acções a 7,62 € cada
Valor da empresa: 1.559 M€

600 x 0,375 / 1.559 = 0,1443. Ou seja 14,43 % do capital da ME é composto por acções da Martifer

A apreciação da Mota-Engil é consequência do forte rateio da OPS. Como os investidores não conseguem adquirir mais que 100 acções, preferem expor-se à Martifer através da Mota-Engil. Ao comprar uma acção da Mota-Engil, com o único propósito de se expor à apreciação da fracção da Martifer por ela detida, estão a fazê-lo numa parcela de 14,43%.

Assumindo que a Mota-Engil tem (excluindo Martifer) uma apreciação bolsista em linha com o psi-20. Para se expor a uma apreciação equivalente a 100 acções da Martifer, o investidor terá de comprar um número de acções da Mota-Engil equivalente a 100 / 0,1443 = 693 acções, o que custaria 5.281 €, para se expor à mesma apreciação que os 800€ que gastaria na OPV (assumindo um máximo de 100 acções a 8,00€.

Assim vai a febre do ouro renovável. Ou estas acções são muito boas, ou então alguém anda a descobrir petróleo de diamantes de novo.

2 comentários:

Cirilo Marinho disse...

Só tenho uma palavra para este post.
Bubble.
Agora desenrasquem-se.

Anónimo disse...

A bolsa é de facto uma febre do ouro renovável... enquanto houver sempre mais e mais gente que nela invista mais e mais poupanças.

Até que um dia as pessoas desconfiam que aquilo é fartura a mais e começam a não investir nela aquilo que deviam...

Nessa altura, o ouro renovável transforma-se em miséria renovável.

Luís Lavoura