O obreiro de grandes passos em direcção a um estado policial foi-se
E já foi tarde, quanto a mim. Afinal, o seu curriculum fala por si, naquilo que define um inimigo da Liberdade, que conseguiu transformar porventura um dos países europeus com maior tradição de respeito por esta e pelos cidadão num estado sob vigilância, e onde a marca da subjugação por um estado policial e com tiques totalitários se vai tornando mais distinta a cada dia.
Senão vejamos a herança Blair: as Anti-Social Behaviour Orders (ASBOs para os amigos - e onde o nome diz muito - em que se permitiu ao poder judicial a privação de liberdades e a sanção de comportamentos baseada em princípios de prova de direito civil, e não de direito penal e em juízos abstractos de perigosidade); a possibilidade de deter alguém arbitrariamente durante um período de 28 dias (que, se tivesse vingado a posição do governo seria de 90 dias); a promoção do vigilantismo como mecanismo de segurança; a imposição de um projecto megalómano de cartão de identificação nacional, com informação biométrica, num país sem tradição de identificação civil; a construção de uma massiva base de dados de ADN, englobando informação genética de todos os detidos, mesmo que nunca tenham sido acusados; o ter transformado o Reino Unido no campeão mundial da videovigilância, em que existe uma média de uma câmara por cada 14 pessoas; o ter patrocinado uma intervenção ao nível da cultura do politicamente correcto na publicidade e na actuação dos media, na melhor tradição do nanny state; afinal, last but not least, ter patrocinado e participado numa invasão ilegítima de um país soberano, e contribuído para o descrédito do direito internacional público, promovendo um clima internacional de extremismos e de unilateralismos.
São estas algumas das coisas que se pode agradecer ao senhor Blair e à sua política governativa. Numa sucessão de mandatos pautada por um total vazio de oposição, sustentado em grande reconhecimento do seu carisma e da sua visibilidade mediática, e em que poderia ter feito a diferença tentando herdar da sólida tradição política britânica, foi a este ponto que chegámos.
Assim como Thatcher não acautelou a sua sucessão (mas deixou melhor obra), também Blair sai sem o fazer, promovendo Brown ao estatuto de ser o Major do Labour.
Ontem, o Reino Unido perdeu um inimigo, que deixa marcas difíceis de reverter. Trocou-o por em cenário político em que um Cameron perdido nas suas campanhas de imagem e uns LibDems folclóricos se opõem a um cinzentão de serviço, que faz opor à opulência de carisma do seu antecessor uma imagem desprovida de qualquer gota deste.
Trocou-se a ambição desmedida e perigosa pelo deserto de ideias e de protagonistas. Mas, mesmo assim, parece-me melhor o desfecho.
(Publicado também n'O Insurgente.)
2 comentários:
Bom postal. "linkei-o" para o "Sine Die", como mais um ou outro comentário. Haveria muito para dizer sobre este temário e, sobretudo, para traçar um paralelo com o que se vem passando entre nós.
Rectificação: "linkei-o" a partir do Insurgente.
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