2007/05/23

Faz sentido

“Os liberais ultra-individualistas são basicamente aqueles que se identificam com o anarco-capitalismo”(…)“Os liberais individualistas-comunitários dividem-se em dois tipos: os liberais clássicos, para quem a liberdade negativa é o valor principal (defesa da propriedade privada, Estado pequeno, etc), e os liberais sociais, que admitem alguma intromissão na esfera privada como forma de promoção de certas liberdades positivas.”

Na minha condição de não-liberal, proponho uma classificação alternativa: os liberais individualistas são os “liberais clássicos”, os liberais individualistas-comunitários dividem-se “liberais sociais” e “liberais conservadores”. Não fará mais sentido?

Miguel Madeira, em comentário a este post

6 comentários:

Anónimo disse...

Acho que há uma diferença significativa entre liberais clássicos e libertários, pelo que não aceito inteiramente a classificação do Miguel Madeira. Mas ele faz bem em incluir os liberais conservadores e liberais-sociais na categoria dos liberais individualistas-comunitários. Tudo isto é tendencial. Eu não me revejo em nenhuma das categorias, talvez apenas na de liberal clássico, desde que se faça a distinção com os libertários. Em contrapartida, seria visto por outros como um liberal-social. Enfim, estes exercícios dificilmente ajudarão, porque as pessoas rejeitarão sempre o rótulo que lhes é colado.

SMP disse...

É curioso, Zé: denoto em ti a mesma aversão aos rótulos que eu própria experimento. Não é que não ache que às vezes podem ser úteis, e que poupam uma série de explicações, mas pessoalmente prefiro ouvir as pessoas a explicar a sua posição em dois ou três assuntos-chave do que ouvi-las a categorizar-se taxativamente com um «eu sou isto», até porque frequentemente (como se tem visto) os significados atribuídos aos mesmos significantes são tantos quantos os envolvidos.
Será que isto decorre de, em Direito, termos levado com categorizações durante cinco anos e portanto termos esgotado a «labellingability» que as outras pessoas têm para uma vida inteira :) ?

Anónimo disse...

Cara Sandra,

Eu diria que se trata de percebermos que ninguém deve encaixar perfeitamente numa categoria. E não deve, porque os problemas (jurídicos ou outros) têm mais imaginação que as teorias e que por isso muitas vezes será melhor sacrificar a teoria em vez de resolver mal o problema.


Quando estudei filosofia, gostava de rótulos, porque via os problemas de uma perspectiva macroscópica. Em filosofia, adequa-se a realidade à teoria, como aliás, fazem muitos liberais (ou democratas-cristãos ou socialistas).

Em direito, pelo contrário, temos
de aprender a estudar assuntos numa perspectiva microscópica. As palavras em direito têm diferentes significados consoante o problema que se queira resolver (os diferentes conceitos de boa fé, por exemplo) e percebe-se rapidamente que as grandes teorias políticas ou filosóficas são demasiado limitadas para resolver bem todos os problemas jurídicos. Daí o nosso cepticismo face a grandes teorias; daí que o nosso liberalismo provavelmente seja diferente do dos outros. Aprendemos a ver as limitações de qualquer teoria face a problemas comezinhos como aqueles que, frequentes vezes, estudamos. Estamos mais dispostos a sacrificar um princípio liberal se isso ajudar a resolver melhor um pequeno problema que ocorra, sem acharmos que estamos a trair o que quer que seja ou que estamos a ser incoerentes. Penso que é isso que distinguirá um jurista, enquanto liberal, de pessoas como o JM ou até o JLP. Não sei se pensarás o mesmo.

Beijinhos,

JLP disse...

"Penso que é isso que distinguirá um jurista, enquanto liberal, de pessoas como o JM ou até o JLP."

I'm not worthy!

I'm not worthy!

:-D

Sinto-me provocado a comentar, e vou fazê-lo em forma de artigo. Entretanto, fica uma pista, introduzindo na discussão um conceito com que não sei se estão familiarizados:

Overfitting

JB disse...

Caro João,

Só te citei ao lado do JM, porque reconheço em ti uma coerência de pensamento que não é habitual na maior parte das pessoas. Acho que também é algo por que aspiras. O que faz de ti um filósofo (é um elogio).

No meu caso, já não consigo discutir as questões a um nível mais abstracto e por isso tendo a interessar-me apenas em tentar resolver as questões "ad hoc", afastando-me mais ou menos dos princípios que defendo, entre os quais os princípios liberais no domínio político.

SMP disse...

Tendo a concordar contigo, Zé; mas vou esperar pelo artigo do João para desenvolver o tema.