Novidades de Leste
Vá-se lá ver, mas parece que muitos dos nossos arreigados defensores da Democracia como fim, que rejubilaram com a vitória da Democracia na questão do aborto, que defendem que tudo se resolve pelo voto e que acusam os liberais de fássistas defensores de regimes totalitários, descobriram agora que a Democracia na Turquia é má.
Não, não há suspeitas de fraude eleitoral. Nem de o estado ser uma democracia inferior como, sei lá, os Estados Unidos. Não, estamos a falar de um país em negociações para entrar na União Europeia, bastião para muitos do laicismo, e de um processo eleitoral que segue todas as regras que foram democraticamente estabelecidas. Mas, helàs, parece que o candidato que se apresenta como potencial vencedor, não é o candidato que muitos desses intransigentes defensores da Democracia desejariam ou toleram.
Vai daí, ergue-se o desagravo. Que o "método eleitoral está errado". Que há muitos mais manifestantes nas ruas que votantes nas urnas. Suprema heresia, até se avançam os militares como "mecanismo de regulação independente" e "último bastião" da separação entre o estado e a religião.
Veja-se bem, meus senhores: já se anuncia os militares e a perspectiva de um golpe de estado militar (mais soft ou hard) como o veículo de um país, às portas da Europa, fazer o que "está correcto". Concerteza, ainda devem ser vestígios das recentes comemorações do 25 de Abril.
Ficamos, portanto, esclarecidos e registamos a argumentação. Para que possa ser lembrada da próxima vez que se disser que a Liberdade é mais importante que a Democracia.
8 comentários:
Apesar da bela tentativa, não consegues é contrapor as «ironias» implicados no teu próprio argumento, sendo esta no seu essencial, um argumento contra a democracia, ficando claro a ideia que é para ti um conceito odioso.
Uma ironia é que na ausência de um sistema democrático, onde autodeterminação e poder limitado é dado à maioria, incumbe-te propor uma alternativa.
No caso concreto da Turquia, trata-se de uma afronta à constituição e não propriamente uma questão de democracia versus liberdade.
Bom post aqui do Miguel Duarte.
Até porque a outra ironia do teu argumento, é de que a liberdade nunca se exerceu na ausência de democracia.
A democracia não é, para mim e como referes, um "conceito odioso". Nada me move contra a democracia. O que se passa é quer há muitos que preferem sim defende-la como um fim e como um valor por si só, mais do que uma mera regra funcional que empalidece em comparação ao desígnio da Liberdade.
Também usam a democracia como mera justificação para banalizar situações de claro abuso de uma ditadura de maioria, naturalmente enquanto essas decisões são consentâneas com o seu projecto político.
Aqueles que, como o nosso primeiro, acham que é a lei, aprovada por maioria, que "dá a liberdade".
"No caso concreto da Turquia, trata-se de uma afronta à constituição e não propriamente uma questão de democracia versus liberdade."
Porque é que há "uma afronta à constituição"? Não estão a ser cumpridas as suas regras? Aliás, não poderá esta a vir ser alterada partindo dos mesmos princípios democráticos, partindo desse ponto de vista?
"Até porque a outra ironia do teu argumento, é de que a liberdade nunca se exerceu na ausência de democracia."
Assim como a democracia nunca foi garante de liberdade. Resta saber quais foram as estratégias que estiveram mais próximas desse objectivo.
Pensando melhor os termos, talvez não uma fronta à constituição, mas sim uma possível afronta à constituição. E sim, a constituição pode vir a ser alterada, mas não me parece que exista neste momento uma base de legitimação para tal.
"muitos dos nossos arreigados defensores da Democracia [...] descobriram agora que a Democracia na Turquia é má"
A quem se refere o JLP? Dê exemplos sff.
Luís Lavoura
"Pensando melhor os termos, talvez não uma fronta à constituição, mas sim uma possível afronta à constituição."
Essa faz-me lembrar o anúncio do "golpe de estado constitucional" feito por Vital Moreira em relação à eleição de Cavaco como PR... ;-)
"A quem se refere o JLP? Dê exemplos sff."
Por exemplo o artigo do Miguel Duarte sugerido pelo Filipe Brás Almeida, este (com eco pelo menos aqui) ou este.
Isso só sobre a questão turca. Porque em relação aos méritos da democracia como fim há imensos artigos e comentários. A começar pelos do Luis Lavoura.
No artigo do Miguel Duarte, a crítica que vi foi à forma pouca democrática de eleição do parlamento turco, isto é, à prática de não dar representação parlamentar a partidos que tenham menos de 10% dos votos. Ou seja, o que o Miguel Duarte criticou foi a forma imperfeita que a democracia assume na Turquia.
Uma coisa é criticar a democracia, outra coisa, muito diferente, é criticar formas particulares de eleição de certos órgãos. Penso que qualquer defensor da democracia pode, legitimamente, discordar da forma como alguns parlamentos são eleitos.
Luís Lavoura
"No artigo do Miguel Duarte, a crítica que vi foi à forma pouca democrática de eleição do parlamento turco, isto é, à prática de não dar representação parlamentar a partidos que tenham menos de 10% dos votos."
A decisão em o fazer desse modo não foi tomada democraticamente?
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