2007/03/29

Twilight zone

(...) hoje em dia em Portugal, o "liberalismo" tornou-se num confortável guarda-chuva onde cabe uma míriade de coisas: a direita pura e dura, os tecnocratas eficientistas, os anarco-capitalistas de candura ingénua, liberais clássicos, ou a esquerda liberal. Se isto, visto à luz da tradição que subjaz ao conceito de "liberalismo", não é um problema por aí além, a questão é que algumas destas correntes não concordam em absolutamente nada; se todos usam e abusam da palavra "liberdade", às vezes tomando-a como património seu inalienável (esquecendo toda a história da esquerda libertária, o socialismo utópico e mesmo o marxismo antes de Lenine) (...)

No entanto, isto não deixa de ser natural: esta nova geração, a minha geração, cresceu num tempo em que o guarda-chuva para toda a gente era o "socialismo", tanto que, hoje por hoje, já poucos fazem a mínima ideia do que signifique- ouve-se por aí que vivemos no "socialismo", o que seria uma anedota, se não significasse justamente isso. Desde pelo menos 1977 que pouco ou nada do que se faz em Portugal tem o que seja a ver com "socialismo", e no entanto cada vez mais se lhe atribui a culpa de todos os males portugueses.

The portuguese way, por André Carapinha no 2+2=5 (com negritos meus).

2 comentários:

Anónimo disse...

Esse post tem o mérito de lembrar que, durante dezenas de anos na história do Ocidente, ou pelo menos da Europa, a grande defensora da liberdade foi a esquerda libertária, vulgo os anarquistas. Em particular, foi ela quem combateu o Estado e não se cansou de denunciar os seus malefícios, em particular o alinhamento do Estado com alguns interesses de alguns particulares.

Luís Lavoura

Filipe Brás Almeida disse...

Há algum 'naivety' no comentário do 2+2=5.

No entanto por uma questão de coerência histórica os únicos que se opuseram a regimes autoritários que atentaram sempre contra a liberdade, tanto de extrema esquerda como de extrema direita, foram os social-democratas europeus.

Já o Von Mises, que é tão venerado por estas bandas por ser um porta-estandarte de liberdade, foi durante vários anos o principal conselheiro económico de um ditador.