2007/03/19

A refundação da direita não vai ser pela via do humor

Ontem, tivemos um serão bem passado em termos de propostas de humor, com largo protagonismo da direita lusa que temos.

Tão bem passado, que se tornou difícil escolher entre o Gato Fedorento, que apesar de ser essencialmente reciclado nos brindou com um esclarecedor sketch sobre a cabala que mina sucessivamente o caminho de Santana Lopes (e que se arrisca a repetir o passado em que outro sketch empurrou definitivamente PSL para fora da política), o próprio PSL em discurso directo (parece que já não anda "por aí"), que nos informou pungentemente da dificuldade em refazer a sua vida profissional e de que está pronto para (preparem-se) ser novamente candidato à presidência do (PPD-)PSD, se "olhar em volta e vir que não há mais ninguém tão bem colocado", ou então o acompanhar das cacetadas&peixeiradas em Óbidos, que deu um passo importante na sua sedimentação como "Maravilha de Portugal".

Uma luta muito, muito renhida. Parece que ainda voltamos ao reeditar da dupla Pedro e Paulo.

E este, senhoras e senhores, é o estado da direita lusa. Aquela que alguns aguardam sebastianicamente refundida e como possível porta-bandeira de alguma coisa que se assemelhe ao Liberalismo.

4 comentários:

Willespie disse...

O PSL parece que quer mesmo levar com ele um terço dos militantes do PSD para um novo partido, que nem o Lucifer e os anjos do inferno.

Assim sendo o PS tem carta branca para governar tranquilo enquanto a direita estiver fragmentada em pequenos nadas. Se o Flopes for mesmo avante o PS poderá estar no governo com maioria ininterrupta daqui a 15 ou 20 anos, o tempo que levar a direita a unir-se.

Ou então estou a sobre-estimar a popularidade do PSL.

JLP disse...

"Ou então estou a sobre-estimar a popularidade do PSL."

Eu acho que é mais sub-estimar os efeitos destrutivos do PS 15 a 20 anos no poder.

Quanto à popularidade do PSL, é verdade que ele ainda arregimenta algumas almas no PSD, mas há uma coisa que tomo praticamente como certa, e que é que mesmo que ele consiga, por falta de comparência, agarrar o PSD, dificilmente agarrará o eleitorado.

Afinal, PSL já é um vulto seguro do humor nacional... ;-)

Willespie disse...

Concordo, embora penso que não sub-estimo os efeitos destrutivos do PS com 15 a 20 (um esticão) anos no poder. Aquilo que a história me diz é que a ausência de oposição é a melhor forma de gerar governos consensuais, mesmo com governos destrutivos. Uma oposição fragmentada é o mesmo que estar ausente.

Mas tendo em conta as alternativas toleráveis ao PS, até poderia ser bem pior. Sobretudo se compararmos o trabalho feito em termos de disciplina financeira, a respeito do PEC. Sendo essa a prioridade, neste campo os governos do PSD-CDS foram anedóticos. Venha daí a flexigurança e depois logo se vê.

JLP disse...

"Aquilo que a história me diz é que a ausência de oposição é a melhor forma de gerar governos consensuais, mesmo com governos destrutivos."

Não sei. Acho que a História não é assim tão consensual como isso. Tanto temos o caso de Espanha, em que o PSOE se meteu num buraco tão grande e apodreceu tanto que conseguiu unir o país num cenário de deserto de oposição em torno de um tecnocrata sem um osso carismático como o Aznar, como o caso britânico, em que o Blair soma e segue destruindo paulatinamente o tecido social e o Estado de Direito britânico há todo este tempo, e em que só se somam idiotas na oposição que lhe vão entregando com chave de ouro (a ele e aos herdeiros políticos) o mandato.

"Sobretudo se compararmos o trabalho feito em termos de disciplina financeira, a respeito do PEC."

Bem, rezolvendo a coisa pelo lado da receita com aumentos de impostos como foi feita, acho que qualquer um o fazia. Mesmo o governo do PSD/CDS, que julgo que mais cedo ou mais tarde iria pelo mesmo caminho. Afinal, basta ouvir ainda nos tempos presentes a Manuela Ferreira Leite.

A questão é que a solução não funciona para sempre. E, mais cedo ou mais tarde, ou se repercute definitivamente na economia, avançando-se para uma recessão estrutural dificil de ultrapassar em dois ou trés dias, ou começamos a "levar nas orelhas" de Bruxelas. Ou então, a coisa começa a ficar mesmo difícil e a exigir medidas drásticas que vão erodir de vez a base de sustentação eleitoral do PS e comprometer a sua continuidade política. É que há sem dúvida muito do eleitorado socialista que ainda aguarda com esperança as supostas benesses e bodos da véspera das eleições que hão-de vir. Mas que provavelmente não virão, ou serão bem mais tímidas que o esperado. E aí, vamos ver como é que vai ser.