2007/03/08

Não eram estes que podiam ir à falência e comprometer as pensões dos incautos?

O secretário de Estado da Segurança Social afirmou hoje que, até ao primeiro trimestre de 2008, o Governo irá contratualizar com privados mandatos de gestão de uma verba de 600 milhões de euros proveniente das reservas públicas.

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"Começaremos a dar concretização este ano para que, durante o primeiro trimestre de 2008, esta medida se encontre em plena implementação", frisou o membro do Executivo, antes de indicar que se tratarão de "mandatos de gestão de uma verba da ordem dos 600 milhões de euros, montante que poderá ser entregue a um a ou mais entidades gestoras de fundos de pensões".

Público Última Hora.
Durante a recente discussão sobre a reforma da segurança social, não faltou quem agitasse o espectro da falência e da suposta insegurança intrínseca dos fundos de pensões privados para argumentar contra a possibilidade de gestão livre (nem que fosse somente de parte) da reforma de cada um. Segundo a opinião dominante, e defendida pessoalmente por Sócrates, o risco de insolvência associado a esses privados era demasiado grande para ser deixado ao arbítrio privado, e a tarefa demasiado importante para ser deixada às mãos especuladoras dos privados.

Agora, numa pungente (e sobretudo rara) auto-assunção de que há quem faça bem melhor que o estado em termos de gestão, este prepara-se para pegar nos recursos que angaria coercivamente em nome da segurança social a todos, e investi-los nesses mesmos fundos privados, subitamente purgados do risco.

Ou seja, quando se pedia que desse liberdade a cada um de decidir como gerir a sua reforma (podendo escolher se paga mais, paga menos, se se reforma mais tarde ou mais cedo), e quando se defendia que cada um tivesse a oportunidade de escolher com quem investir, qual o perfil de risco que escolhia e qual a credibilidade que conferia a esses fundos privados, numa livre perspectiva de mercado, tal era perverso, porque era irresponsável e não estava a acautelar o potencial risco e suas repercursões nos seus interesses.

Agora, quando é o estado a fazê-lo, em nome de todos e mantendo a sua atitude coerciva em relação a todos, já está tudo bem. Os critérios de risco são, naturalmente, desconhecidos. Os interesses potenciais em escolher o fundo A ou B para a tarefa também. Os critérios que vão presidir à escolha, esses, também não aparecem.

Mas é o estado a decidir. Portanto, está tudo bem. Estes são os bons fundos.

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