2007/03/28

Da própria candura

Eu admito na zazie a imensa curiosidade, mas isso é apenas um atributo da sua condição feminina. Admiro sobretudo a sua capacidade para questionar. É uma das poucas pessoas que eu conheço que seria capaz de questionar até os Dez Mandamentos.

A sua formação é em Literatura ou em História e ela é uma pessoa imensamente lida. Embora raramente o aparente, ela é, na minha opinião, uma pessoa de convicções religiosas e de uma grande consideração pela tradição. Possui uma profissão intelectual, muito provavelmente é professora.

Não sendo a sua área a das ciências, ela é particularmente atraída por aqueles que se apresentam na blogosfera como cientistas, seja das ciências sociais seja das naturais. E como o cientismo é hoje uma moda em Portugal, a zazie possui matéria-prima que baste. Com a humildade que é própria de quem não é da área, ela começa por colocar questões aparentemente ingénuas ao cientista. Não demora muito tempo até que o cientista esteja por terra. Mais geralmente, para um blogger que preze verdadeiramente a argumentação racional e lógica, o pior que lhe pode acontecer é ter a zazie do outro lado.

Por detrás do prazer genuino que lhe proporciona a blogosfera, da vivacidade e da juventude que é capaz de pôr em cada comentário, está uma mulher obviamente madura e experiente e que possui uma genuina autoridade. É a única mulher que, mesmo nas situações mais difíceis em que o debate descamba para o insulto e para a graçola, consegue enfrentar todos os opositores, mesmo os mais obscenos.

Na verdade, todo homem sabe - ou devia saber - que nunca se discute com uma mulher experiente. A prazo, ela ganha sempre. Nenhum dos seus golpes é fatal. Mas ela há-de dar tantos até pôr a vítima de rastos. As mulheres ganham autoridade na vida sendo mães. Por isso, eu presumo que a zazie é mãe.
Hoje, Pedro Arroja fez-nos a todos seus leitores regressar à adolescência. À memoria das cartas de amor, de registo característico, escritas ou secretamente escrevinhadas à amada platónica e distante do recreio ou à professora inatingível que teima em estimular as hormonas. Está lá tudo: o "será que é?", a "amada destacada perante os pares", o reconhecer da experiência, do gesto, da sublimidade.

Aqui temos a donzela que derruba os Dez Mandamentos, a pura respeitadora da tradição e zelosa da cristandade que derruba o vil cientista com graça e gesto simples. É professora, concerteza. E mãe, mas tem a força de derrubar sem piedade o "insulto" e a "graçola", mesmo dos mais obscenos.

Vivida, mas cheia de jovialidade e wit, e com o poder de arrumar os homens, meros jogos nas suas mãos, e remetê-los para o seu lugar.

A que põe de rastos vítimas e admiradores, aqueles que verdadeiramente reconhecem o seu valor, e nela vêm reconhecido o seu próprio, por aqueles gestos que só os dois conseguem compreender. Um já é a boca do outro. Um já antecipa aquilo que o outro procurava há tanto tempo, e é o oásis que o compreende quando os maus não partilham o sublime entendimento e a simbiose.

Pungente.

Já não via nada tão sensível pelas paragens blogosféricas desde o Menino Guerreiro.

Bem haja.

7 comentários:

zazie disse...

Não sei se reparou que ele teve o cuidado de não fazer link.

Nada de especial mas é nestes pequenos detalhes que se mede a educação de uma pessoa. Não são os palavrões que são falta dela.

zazie disse...

De qualquer forma, por mim pode-se entreter com o que consegue. Acredite que não vai ser por isso que o mando brincar com a mãezinha

JLP disse...

"Não sei se reparou que ele teve o cuidado de não fazer link."

Lá está. Se fiz link, foi porque fiz link e não preservei sabe-se lá o quê (eventualmente a possibilidade de Pedro Arroja se ter virado para o surrealismo françês).

Se não tivesse feito link, estaria agora a dizer-me da falta de educação (e eventualmente coragem) de falar de si nas suas costas.

Ou tem dúvidas em relação a que zazie ele se estava a referir (não pareceu, a julgar pelos seus comentários ao referido artigo), e que por acaso até inclui o endereço do seu blog (o tal a evitar linkar) na assinatura dos seus comentários?

Quando se quer arranjar desculpas, é fácil. Afinal, entre acusações de insulto ou fugas para a frente, é sem dúvida toda uma escola que vai crescendo.

zazie disse...

Ó meu caralho, eu até estava muito cool e nem te disse que com essa arte brejeira, não ias mais longe que puta de Intendente em dia de greve

JLP disse...

Cara zazie,

Efectivamente, é nos pequenos grandes detalhes que se constata a educação das pessoas.

No seu caso, é exemplar. A quem devo a obra: à mãezinha (em exercício da sua afamada autoridade), ao paizinho, ou isso é tudo autodidatismo?

Tenho verificado que nos últimos tempos tem andado muito com o referido membro na boca. Como homem, recomendo que lhe dê descanso. Olhe que ele cansa-se e faz ferida.

Depois, leva-me para um Intendente tão longínquo e que nunca frequentei.

Estaremos a assistir a uma afirmação de nostalgia de carreira perdida, ou a um imaginário omnipresente?

Mas fica a constatação: a arte brejeira era, pela sua palavra, à justa aí para as profissionais do Intendente. Mas parece que chegou para uma zazie.

Volte sempre.

Mário Almeida disse...

Muito bom, jlp.

JB disse...

Chamo a atenção para o último post do Pedro Arroja. Um verdadeiro "must":

http://ablasfemia.blogspot.com/2007/03/oh-me.html

Qualquer dia, o Pedro Arroja tira o emprego ao Ricardo Araújo Pereira.:)