2007/03/07

Civilizações ocidentais em estado avançado de decadência civilizacional (again) II

A suspected German neo-Nazi has admitted publicly burning a copy of Anne Frank's diary, at the start of his trial with six others.

The suspects are accused of inciting racial hatred and disparaging the dead.

Prosecutors in the eastern German city of Magdeburg said Lars Konrad, 25, threw the book onto a bonfire during a summer solstice party in June 2006.

Denying the Holocaust and incitement of racial hatred both carry maximum jail terms of five years under German law.

BBC News.
Pior que os nazis promotores da queima de livros são os nazis do politicamente correcto e os "guardiões da memória".

Um livro é um mero bloco de celulose e tinta, adquirido legitimamente por alguém que poderá fazer dele o uso pessoal que bem entender (que não seja atirá-lo à cabeça de alguém). A sua destruição voluntária é um exercício legítimo de usufruto dessa propriedade, que não deve sofrer sanção.

Afinal, a perspectiva de que algo possa "denegrir os mortos", e que tal possa constituir um ilícito criminal, passa em grande parte por considerar o nome de alguém que está morto e enterrado um bem jurídico que deve ser protegido, e que neste caso se sobrepõe até à liberdade dos vivos. Ora, enquanto a Anne Frank não se erguer da tumba e acusar quem a possa estar a difamar, o que se passa actualmente é algo de muito semelhante à criminalização dos delitos de opinião, o que é de todo inaceitável.

Além de que fica a dúvida: se não fosse o Diário de Anne Frank que estivesse a ser queimado, mas sim o Mein Kampf, estaria o estado tão afoito para "proteger" a memória de Adolf Hitler?

O que virá a seguir? Proibir as piadas de bávaros?

2 comentários:

JSC disse...

O JLP tem razão, quando critica a mordaça do politicamente correcto dos "guardiões da memória".
Mas isso de adjectivar que são piores que os nazis, é ralativizar a memória do nazismo!
Cumprimentos,
J.

JLP disse...

Caro Júlio Silva Cunha,

Compreendeu-me mal. Não tive qualquer intenção de relativizar.

O que pretendi dizer foi que o que os nazis fizeram, ao promover a alienação colectiva para a queima de livros (e só me refiro especificamente a isto), num gesto genericamente não coercivo, foi apesar de tudo "melhor" do que os nazis de hoje em dia (figura de estilo) fazem, ao tomarem atitudes em que se socorrem do poder coercivo do estado.

Os nazis de outrora promoveram a alienação colectiva, o que essencialmente responsabiliza os que embarcaram nela voluntariamente. Os de hoje, impõem-se quer aos que estão com eles, quer aos que deles discordam. E com consequências duradouras.

Cumprimentos,

JLP