2007/02/21

Vantagens/Desvantagens dos possíveis resultados finais do concurso Grandes Portugueses

Vitória de Salazar: Vantagens:

  1. Desde o 25 de Abril que a direita deixou de existir ou, existindo, tem pouca relevância. A vitória de Salazar num concurso deste tipo poderia ser um sinal para a esquerda, a que tem governado o país e a que controla as ruas, do risco reaccionário das suas políticas e da necessidade de as inverter ou moderar, sob o risco de haver uma reacção e aparecer um movimento que faça regressar os valores retrógrados e anti-democráticos do salazarismo.
Desvantagens:
  1. A luta contra o fascismo é uma das principais bandeiras da esquerda. A vitória de Salazar poderia dar um impulso extra aos movimentos da esquerda mais radical.
  2. A vitória de Salazar daria um novo alento aos movimentos de extrema-direita nacionais.
  3. A divulgação internacional do resultado danificaria a imagem de Portugal.
Vitória de Cunhal: Vantagens:
  1. Sinalizaria ao país a força e capacidade organizativa que a extrema esquerda portuguesa ainda tem para actuar na sombra.
  2. Os movimentos de extrema direita, de todos os mais empenhados no resultado deste concurso, saíriam derrotados, desmotivando futuras lutas.
Desvantagens:
  1. Poderia ser uma vitória moralizante para os movimentos comunistas em Portugal, em especial para o PCP.
  2. A divulgação internacional do resultado danificaria a imagem de Portugal

13 comentários:

Tiago Mendes disse...

Caro Carlos,

Acho que deverias falar em "coisas boas" e "coisas más" e não em "vantagens" e "desvantagens". É que estas, por definição, já são comparativas. Logo, terias de, por exemplo, ver o efeito líquido da vitória de X sobre Y em termos de "imagem internacional". Não chega dizer que ambos terão um efeito negativo. É preciso dizer, preto no branco, qual deles achas que terá um efeito mais negativo nessa imagem. E, depois disso, dizer algo do género, "em termos de imagem internacional, apesar de ambas as vitórias terem um impacto negativo, a vitória de X terá um impacto menos pronunciado, logo, será, neste aspecto, vantajoso que X ganhe". Idem para as outras categorias.

De resto, parece-me bem. Acrescentava só um ponto: é que mais do que ganhar, creio que, pela natureza do que está em causa, a maior interpretação está naquele que ficar em segundo lugar. É que, havendo tão pouca gente (em termos da população toda...) que de facto tem X ou Y na sua "primeira preferência", do que se trata é de "derrotar alguém". Ou seja, se X ganhar, mais do que dizermos (também é aceitável que o digamos, claro, mas julgo, no mínimo, redutor ficarmos por aí) que X é "mais popular", é preciso dizer que "Y é menos popular". Ou, talvez melhor, mais odiado.

De facto, a vitória de X significará sobretudo que há mais anti-Y do que anti-X. Vota-se, nesta altura, pelo "mal menor" e não pelo "bem maior".

Tiago Mendes disse...

Vota-se, nesta altura, CONTRA o "mal menor" e não pelo "bem maior" - assim Sim.

Anónimo disse...

Caro Tiago,

Penso que tens razão. Aspectos positivos e negativos seria a terminologia mais apropriada neste caso. Quando comecei o post tinha a intenção de introduzir um terceira hipótese que seria ganhar um dos outros oito candidatos, mas concluí que incluí-lo retiraria sentido ao resto da análise. Acabou por ficar a terminologia da intenção inicial.
Apesar de tudo, tenho uma réstia de esperança que um terceiro vença o concurso. Como será revelado o evoluír das votações a partir de um certo momento, há a possibilidade de os "moderados" juntem os seus votos no 3º candidato que ofereça mais condições de ganhar. Não é muito provável, mas penso ser possível.


P.S.:Aqui entre nós: qual é para ti o mal menor?

Tiago Mendes disse...

"P.S.:Aqui entre nós: qual é para ti o mal menor?"

Como é que escrever algo público pode ser "entre nós"? :-)

O meu ranking para os grandes portugueses seria:

1. Camões
2. Vasco da Gama
3. D. Afonso Henriques
4. Pessoa
5. D. João II
6. Eça
7. T.M.

:-)

Tiago Mendes disse...

Em termos estratégicos, talvez fosse útil que ganhasse Salazar, por:

i) por a claro as fraquezas deste tipo de "jogo" (então não é giro que um tipo ganhe o "pior" e o "melhor" português?);

ii) ajudar a falar do passado;

iii) ajudar a desmascarar uma certa direita saudosista de uma direita liberal e mais desempoeirada;

iv) ser uma espécie de prémio de consolação para alguma malta que defendeu o Não no referendo. E, em política, é bom ser magnânime.

Em termos não estratégicos, a escolha do "mal menor" seria óbvia, mas o concurso é tão pouco representativo que pensar nesses termos interessa muito pouco.

JB disse...

7. T.M.

Só?:)

Está visto que os ares da Velha Albion fazem mal à tradicional humildade lusitana.:)

Carlos Guimarães Pinto disse...

Tiago, em geral estou de acordo com a tua análise em relação a salazar. Acrescentava que o facto de Salazar ter sido um grande português é mais facilmente exposto ao contraditório porque, ao contrário de Cunhal, ele passou das intenções aos actos. E as consequências dos seus actos são, ou foram, bem palpáveis. Apesar de tudo o meu lado covarde faz-me querer espezinhar o bicho mais pequenino, a extrema direita, para quem este concurso parece ter uma importância tão grande. A extrema esquerda é demasiado grande para se deixar abalar por um concurso televisivo.
Em termos de posicionamento internacional continuo a achar que o melhor "grande português" possível seria Cristovão Colombo, mas a minha campanha nem deu para o colocar entre os 100 :(

Tiago Mendes disse...

"Acrescentava que o facto de Salazar ter sido um grande português é mais facilmente exposto ao contraditório porque, ao contrário de Cunhal, ele passou das intenções aos actos. E as consequências dos seus actos são, ou foram, bem palpáveis."

Nem mais.

"Apesar de tudo o meu lado covarde faz-me querer espezinhar o bicho mais pequenino, a extrema direita, para quem este concurso parece ter uma importância tão grande."

Porque é que tem de ser covarde? Mais uma vez, temos de pensar se estamos a usar a palavra "extrema-direita" como mera "desqualificação"/"arremesso" ou como algo, com todo o que isso tem de subjectivo, descritivo. Se calhar, se olhares à tua volta por essa blogosfera fora, verás que "uma certa direita" não é assim tão pequena. Só serás covarde (não gosto da palavra, só a mantenho porque és tu a escolhê-la) se não afrontares coisas das quais discordas e relativamente às quais sentirás, quiçá, algo mais do que uma mera discordância.

Tiago Mendes disse...

Uma pergunta muito clara: havendo apenas uma escolha entre Cunhal e Salazar, tu qualificarias de "extrema-direita" aqueles que escolham Salazar - repito, dando a escolha apenas estes dois? Como os qualificarias? Pergunto isto apenas para dar uma "ajudinha" (sem paternalismos) a porventura qualificar as loas a Salazar que se vêem por aí.

Carlos Guimarães Pinto disse...

"Só serás covarde (não gosto da palavra, só a mantenho porque és tu a escolhê-la) se não afrontares coisas das quais discordas e relativamente às quais sentirás, quiçá, algo mais do que uma mera discordância."

Eu utilizo a palavra covarde no sentido em que havendo uma escolha entre atacar uma estrutura pequena, a extrema direita, e uma grande, a extrema-esquerda, poderia dar prioridade a atacar a pequena.


"Se calhar, se olhares à tua volta por essa blogosfera fora, verás que "uma certa direita" não é assim tão pequena."

Talvez seja optimismo da minha parte mas não acredito que essa "certa direita" seja assim tão grande. Existe é uma "certa anti-esquerda" e umas "certas pessoas com prazer em provocar o politicamente correcto" que escrevem as coisas pela metade de tal forma que passam por ser da "certa direita". Em Portugal o inimigo ideológico mais forte do liberalismo é a esquerda. Acho normal, ainda que não bom, que no fervor da discussão alguns liberais se pareçam com a "certa direita". Na maior parte dos países aconteceu exactamente o oposto: a direita era o inimigo ideológico mais forte e os liberais tenderam a encostar-se à esquerda e adoptaram algumas das suas causas, mesmo as menos liberais. Não é positivo, mas é uma tendência normal.

Carlos Guimarães Pinto disse...

Tiago, em que cenário se poria essa escolha? No cenário de concurso televisivo ou de escolha de governante?

Carlos Guimarães Pinto disse...

No cenário de concurso televisivo, até uma pessoa de esquerda, ou extrema esquerda, poderia votar estrategicamente em Salazar. Será muito difícil qualificar alguém que vote em Salazar num concurso televisivo.
Numa escolha de governantes em que só houvesse essas duas hipóteses, também teria dificuldades em qualificar de extrema direita alguém que preferisse Salazar a Cunhal. Considerando que Cunhal fosse o nosso Ceausescu caso fosse governante, havendo apenas essas duas possibilidades, penso que grande parte do centro escolheria salazar.

Willespie disse...

Acho com toda a franqueza que é inútil e desonesto tentar projectar qualquer consequência ou axioma, dos resultados deste concurso, tendo em conta a percentagem da amostra em questão, que segundo li trata-se de apenas 1% da população portuguesa.