2007/02/12

Boa imprensa

O PS e engº Sócrates sempre demonstraram cautelosa relutência em avançar os pormenores da regulamentação que propunham para a lei que fosse resultado da vitória do Sim no referendo. Afinal, podendo ter um cheque em branco, e havendo tanta gente na disponibilidade de acriticamente o fazer, por que dizer mais?

A coisa foi gerida na perspectiva do "depois se veria", que era preciso "discussão", "consensos" e que o problema não era "trivial".

Sem dúvida, há que reconhecer, a estratégia foi boa. Afinal, demonstrou ser apelativa aos ouvidos de quem interessava.

Mas, da minha parte, tenho alguma curiosidade em saber porque foi tão complacente a imprensa com esse (estratégico) silêncio. Afinal, o "argumento económico" não passou despercebido, e foi aliás alvo de campanha específica do lado do Não. Porque não demonstrou a seu tempo a imprensa, propalado bastião de isenção, interesse por essa questão, e não questionou aqueles em posição governativa ou com a posição previlegiada de maioria absoluta que detêm, sobre o que pensavam fazer?

Mas mais curioso ainda foi verificar o que aconteceu ontem e hoje, depois de "arrumada" a coisa. Ontem, a primeira pergunta feita ao engº Sócrates após o seu discurso, foi se o SNS estava preparado para "assumir". Hoje, menos de 24 horas depois, já se sabe que vamos seguir, na implementação da legislação, o "modelo alemão". Para quem parecia estar tão a leste dos pormenores da concretização do referendo, parece que a coisa foi rápida. E a imprensa pareceu adaptar-se rapidamente.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom post.

O que se avizinha é sinistro do ponto de vista de um liberal. Tencionam submeter cada mulher que apareça num hospital a pedir um aborto a (1) uma lição de moral, e (2) uma consulta com uma assistente social. Para além de o Estado se preparar para dar lições de moral às cidadãs, ainda está na forja um modelo em que o Estado tenta arranjar casa, adopção, dinheiro ou uma instituição de acolhimento para cada mulher grávida que pretenda abortar. Como é evidente, todas essas consultas e procuras demorarão o tempo que fôr necesário para, na prática, se esgotar o prazo das dez semanas. Pelo que o aborto continuará a ser feito na clandestinidade. E o povo português suportará um custo enorme, tanto por cada aborto que é feito como por cada aborto que deixe de o ser.

É este o meu palpite.

Luís Lavoura