Lula, o iconoclasta
Com o recente mandato de Lula da Silva, reconduzido (até ver) em nova jornada, foi quebrado mais um mito do Comunismo e do Socialismo.
Para os eternos promotores e defensores da Igualdade, a primeira machadada foi o assumir que não era feio a um socialista pregar a Igualdade, promover a redistribuição da propriedade (principalmente a dos outros), para cumprir o desígnio mítico da justiça social, e simultaneamente acumular significativa riqueza pessoal. Proclamada a vontade inicial do homem igual ao seu próximo, do quase asceticismo social em que todos comeriam da mesma gamela e partilhariam o desígnio comum, passou a ser tolerável, no cânone do Socialismo, a coexistência de furtuna pessoal, normalmente (e curiosamente) concentrada nos protagonistas da cúpula das elites. Não tardaram a despontar os Josés Eduardos dos Santos, os Fideis Castros, os Kim-Jong Ills ou os Hugos Chávez deste mundo a propagar a sua estratégia curiosa de igualitarismo socialista.
Depois veio o Mercado. Com a diminuição das distâncias, o aumento da circulação da informação, a globalização da indústria e do comércio e, por conseguinte, com a diminuição da capacidade dos regimes totalitários socialistas, os balões de ensaio do socialismo puro, conseguirem continuar a tapar os olhos dos seus cidadãos dos prados bem mais verdes e confortáveis dos vizinhos, o inevitável bastião a cair em seguida, o mito inevitável a tombar de seguida, foi o Mercado Livre e a demonização do Capitalismo. De um dia para o outro, a China menina dos olhos de Mao caiu e instalou-se no capitalismo selvagem. A Venezuela, posterior menina dos olhos de cada vez mais, instala-se confortavelmente de mãos sujas de petróleo no seu respectivo lugar da gerência do cartel mais organizado do Mundo. Sem dúvida, o mercado e o capitalismo, mesmo na sua vertente internacional, passou a ser kosher.
O último mito a morrer, e porventura o que mais vá custando no coração dos utópicos mais hard core, os que ainda vão sonhando e acreditando na pureza e na superioridade moral do seu desígnio primário, corrompido torpemente pelos que levam cada dia à demonstração do erro e descredibilização dos seus princípios sagrados, foi o que Lula da Silva destruiu. O mito de que alguém pobre, emergindo do proletariado iletrado e explorado, subindo a pulso e atingindo ao poder pela sua preserverança e vontade de ajudar o povão, estaria imune e seria superior aos vícios dos perversos do poder, escravos das corporações e do capital, e cúmplices e executores das estratégias de lutas de classes e da opressão do Homem pelo Homem. Tudo isso ruiu. O profeta da esquerda socialista justa e impoluta, mal teve a oportunidade de meter a mão no frasco das bolachas, lambuzou-se com a mesma sofreguidão e ausência de pudor dos demónios anunciados de outrora.
Platão sonhava com a sua República de reis-filósofos, criados à margem da sociedade, no ambiente protegido que construiria a elite dos iluminados e dos superiores. O Socialismo, em contraste, sempre sonhou com a emergência do Povo do profeta-proletário, a voz das classes oprimidas e o campeão das causas de quem trabalha. Vê-se hoje em que é que tão puros desígnios despontaram, e na cruel realidade que os desminte.
Mas há quem nunca aprenda.
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