2006/11/21

E tu, Mega, ficas-te?

Anunciou um protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa que assegurará a Festa da Música nos próximos três anos. Será isto um exemplo da «abertura aos privados» de que falou a tutela?
Não posso dizer se isto é exactamente aquilo de que falou a tutela quando falou de «abertura aos privados». Mas é certamente daquilo que eu falo quando falo da abertura do CCB à sociedade. Ninguém dá nada a ninguém e a orientação não pode ser aquela ideia do «dê cá não-sei-quanto para este ano» e, depois, logo se vê. Por isso, criámos a categoria de parceiro institucional.

Essa «abertura aos privados» obrigará a uma alteração dos estatutos?
Não vejo nenhuma necessidade de alterar os estatutos porque não vejo nenhuma necessidade de os privados entrarem no património da fundação. O património da fundação é, de resto, de tal forma grande que seria ridícula qualquer entrada de privados. No que estamos a trabalhar é no projecto de criação de mecenas institucionais. Embora o corpo de mecenas possa crescer indefinidamente, o nosso objectivo é encontrar pelo menos dez. Se cada um der cem mil euros/ano, o total daria um milhão de euros. E um milhão de euros far-nos-ia toda a diferença.

Mega Ferreira entrevistado pela Revista Visão, 30 de Março de 2006.
Festa da Música

A Festa da Música de 2006 obedecerá à nova filosofia da casa: um grande esforço de renegociação dos "cachets". Conforme disse, o evento deste ano custará menos 15% do que a de 2005 e a sua qualidade não será menor, antes pelo contrário, prevendo-se uma assistência de 50.000 pessoas em cada evento. Mega Ferreira anunciou que está a ser feito um trabalho consistente no sentido de tornar a "Festa da Música" uma das maiores do mundo, "quer em dimensão quer em qualidade".
Conforme afirmou, dentro de poucos anos a Festa "constituirá um ponto de atracção incontornável no roteiro dos centros culturais". A "Festa da Música" será seguramente "mais cosmopolita e atrairá a Portugal cada vez mais gente" - prometeu.

Mega Ferreira nas Tertúlias na Ordem dos Economistas, 30 de Março de 2006.
É oficial: a Festa da Música, que foi a imagem de marca do Centro Cultural de Belém (CCB) nos últimos sete anos, morreu. "Acabou a Festa da Música. O evento que vai ocupar as mesmas datas chama-se Dias da Música em Belém", disse ontem António Mega Ferreira, presidente do CCB, em Lisboa, depois de já ter anunciado em Outubro que o modelo teria uma "alteração profunda" devido a um corte de 600 mil euros feito pelo Ministério da Cultura.

Público Última Hora.
Parece que o dinheiro a rodos qua ainda no outro dia a ministra da cultura Isabel Pires de Lima veio cá para as terras do Porto anunciar que "existia" e que somente Rui Rio é que teimava em não utilizar, não abunda assim tanto como a responsável deixou transparecer nas suas palavras. Parece mesmo que a abundância só serviu mesmo como arma de arremesso contra as decisões de gestão da câmara do Porto, e contra uma outra visão da cultura, finalmente (até ver) menos subsídiodependente.

Mas mais curioso (e sem dúvida com um laivo de comicidade), é ler o que agora António Mega Ferreira se vê em vias de dizer, e o que dizia ainda há tão pouco tempo. Não há nada como contratar um verdadeiro comissário político, sempre pronto a digerir em público com flexibilidade os reveses da furtuna.

E fica uma dúvida, que não passará concerteza à margem dos que estejam mais atentos: será que o corte anunciado de verbas, com efeito directo no downsizing da Festa da Música, não terá alguma coisa a ver com o facto de o CCB se ter visto privado de uma significativa fonte de receitas pela atribuição de practicamente a totalidade do espaço de exposição, bem como de recursos financeiros, à colecção privada de um conhecido promotor de cartões de crédito?

É que se for, espera-se que tanto tanto Mega Ferreira, pelas suas funções no CCB, venha a público expôr os termos do seu problema de gestão, como a ministra venha a público assumir o seu critério político de preferência cultural, nomeadamente porque escolheu a acessibilidade de uma colecção de arte contemporânea privada, para a qual passou a canalizar recursos, em deterimento da educação musical dos milhares de crianças e jovens que povoaram a Festa da Música.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já se sabe que o dinheiro nunca chega para tudo. Acontece que Sócrates quer a todo o custo que o seu amiguinho Berardo tenha umas paredes para pendurar os seus rabiscos. Portanto qual é a
solução? Tirar dum lado para para pôr noutro. Uma coisa é certa, anualmente vai-se gastar bem mais dinheiro com o museusinho do Berardo do que com a festa da música. Só falta esperar para ver se a tasca do Berardo conseguirá num ano o mesmo número de visitiantes que a festa da música tinha em 3 dias.

Valerá a pena trocar a Festa da Música, um evento ímpar e de referência no nosso panorama musical, pela massagem ao ego do sr. Berardo?