Vamos ver quanto tempo levará a que alguns comentadores cá )ou melhor, aí) do burgo se comecem a preocupar verdadeiramente com o carácter cada vez menos "inalienável" da Liberdade no grande país que está do lado de lá do Atlântico (sem ironia).
Já agora, assumindo, en passant, que o tipo que o dirige é incapaz, por ele próprio, de perceber que o "Habeas Corpus" é um valor fundamental e, como tal, não propriamente condicionável a ideias do tipo "mas relativamente a suspeitos X e Y nós podemos suspender isso, porque eles são suspeitos do crime W com probabilidade Z, e esse crime tem um efeito V para o país. Argumentos consequencialistas - salvo as excepções de "rebelião" e "invasão", claramente inaplicáveis - não têm espaço aqui.
Isto serve também como exemplo perfeito de que um líder político, não tendo de [e não devendo] ser "perfeito" [whatever that may mean], "desde que" devidamente rodeado de pessoas capazes, tem de ter um "mínimo" que visivelmente Bush não tem. [E quem achar que isto "primarismo", por favor defina as fronteiras do que pode ser uma crítica a Bush não primária - obrigado]. E esse mínimo não é só para ajuizar dos conselhos dos que o rodeiam. É, antes de tudo, saber escolhê-los, tendo a humildade, a vontade e a capacidade de reconhecer as áreas onde o aconselhamento é mais preciso. Não é difícil perceber que Bush não tem qualquer das três.
Outro comentário, formal: é também interessante ver como noutros países se consegue aliar uma informação inteligente ao "espectáculo" (com aspas e/mas sem sentido pejorativo). Enquanto o "espectáculo" em Portugal (com sentido pejorativo, mas, needless to say, or what could I say?) na informação se resume (ou resumia) às exibições de Manuela Moura Guedes, em estado de histeria total.
O problema é que o mal já não é só americano. Pessoalmento, acompanho ainda com mais apreensão o que se passa no UK (já me tenho referido a isso por cá).
São sem dúvida duas perspectivas assustadoras de um edifício de liberdade que foi exemplo para todos no mundo a desmoronar-se a uma velocidade assustadora.
Pessoalmente não acho que o problema seja, como refere, a questão da qualificação do presidente, ou a necessidade de "mínimos" que o qualifiquem para o cargo. A possibilidade de se eleger um idiota e/ou um demagogo mais ou menos totalitário é um dos efeitos secundários da democracia com que se tem que viver. Para isso mesmo é que devem existir os mecanismos constitucionais e de checks&balances que travem as possíveis repercursões de tal possibilidade.
Ora o que se verifica é que mesmo sendo a Constituição americana um exemplo de liberdade e de solidez, beneficiando em grande parte das suas preocupações geracionais de estabelecer mais uma República do que uma Democracia, aparentemente tal não foi suficiente. Os mecanismos previstos por ela parecem não ter sido capazes de assegurar os seus pressupostos.
Fica assim portanto o desafio, até para futura discussão, de se analisar o que falhou e o que poderia ter sido feito para o evitar.
Já agora, quanto à questão da "forma", sem dúvida. Ao menos eles, mesmo batendo mais fundo do que nós (veja-se o caso da FoxNews, que me atormentou durante alguns dias), conseguem também ter picos mais altos de qualidade, de verdadeira informação e formação de opinião, que se afastam estratosfericamente da modorra mediania medíocre da nossa televisão.
O problema pessoal é menor, eu acrescentei-o como comentário perfeitamente (co)lateral e só porque tendo a crer que seria condição suficiente para isto não acontecer ter um presidente um pouco mais capaz, mais culto, mais ciente da História, da Política, do valor real da Liberdade, do Habeas Corpus, do seu papel ao longo dos últimos séculos na nossa Civilização e dos EUA, etc, etc. Já nem peço que o homem tenha lido "O Processo", de Kafka... mas que algum dos seus "próximos" perceba o alcance dele é também algo duvidoso.
3 comentários:
Insuperável.
Vamos ver quanto tempo levará a que alguns comentadores cá )ou melhor, aí) do burgo se comecem a preocupar verdadeiramente com o carácter cada vez menos "inalienável" da Liberdade no grande país que está do lado de lá do Atlântico (sem ironia).
Já agora, assumindo, en passant, que o tipo que o dirige é incapaz, por ele próprio, de perceber que o "Habeas Corpus" é um valor fundamental e, como tal, não propriamente condicionável a ideias do tipo "mas relativamente a suspeitos X e Y nós podemos suspender isso, porque eles são suspeitos do crime W com probabilidade Z, e esse crime tem um efeito V para o país. Argumentos consequencialistas - salvo as excepções de "rebelião" e "invasão", claramente inaplicáveis - não têm espaço aqui.
Isto serve também como exemplo perfeito de que um líder político, não tendo de [e não devendo] ser "perfeito" [whatever that may mean], "desde que" devidamente rodeado de pessoas capazes, tem de ter um "mínimo" que visivelmente Bush não tem. [E quem achar que isto "primarismo", por favor defina as fronteiras do que pode ser uma crítica a Bush não primária - obrigado]. E esse mínimo não é só para ajuizar dos conselhos dos que o rodeiam. É, antes de tudo, saber escolhê-los, tendo a humildade, a vontade e a capacidade de reconhecer as áreas onde o aconselhamento é mais preciso. Não é difícil perceber que Bush não tem qualquer das três.
Outro comentário, formal: é também interessante ver como noutros países se consegue aliar uma informação inteligente ao "espectáculo" (com aspas e/mas sem sentido pejorativo). Enquanto o "espectáculo" em Portugal (com sentido pejorativo, mas, needless to say, or what could I say?) na informação se resume (ou resumia) às exibições de Manuela Moura Guedes, em estado de histeria total.
Tiago Mendes
O problema é que o mal já não é só americano. Pessoalmento, acompanho ainda com mais apreensão o que se passa no UK (já me tenho referido a isso por cá).
São sem dúvida duas perspectivas assustadoras de um edifício de liberdade que foi exemplo para todos no mundo a desmoronar-se a uma velocidade assustadora.
Pessoalmente não acho que o problema seja, como refere, a questão da qualificação do presidente, ou a necessidade de "mínimos" que o qualifiquem para o cargo. A possibilidade de se eleger um idiota e/ou um demagogo mais ou menos totalitário é um dos efeitos secundários da democracia com que se tem que viver. Para isso mesmo é que devem existir os mecanismos constitucionais e de checks&balances que travem as possíveis repercursões de tal possibilidade.
Ora o que se verifica é que mesmo sendo a Constituição americana um exemplo de liberdade e de solidez, beneficiando em grande parte das suas preocupações geracionais de estabelecer mais uma República do que uma Democracia, aparentemente tal não foi suficiente. Os mecanismos previstos por ela parecem não ter sido capazes de assegurar os seus pressupostos.
Fica assim portanto o desafio, até para futura discussão, de se analisar o que falhou e o que poderia ter sido feito para o evitar.
Já agora, quanto à questão da "forma", sem dúvida. Ao menos eles, mesmo batendo mais fundo do que nós (veja-se o caso da FoxNews, que me atormentou durante alguns dias), conseguem também ter picos mais altos de qualidade, de verdadeira informação e formação de opinião, que se afastam estratosfericamente da modorra mediania medíocre da nossa televisão.
O problema pessoal é menor, eu acrescentei-o como comentário perfeitamente (co)lateral e só porque tendo a crer que seria condição suficiente para isto não acontecer ter um presidente um pouco mais capaz, mais culto, mais ciente da História, da Política, do valor real da Liberdade, do Habeas Corpus, do seu papel ao longo dos últimos séculos na nossa Civilização e dos EUA, etc, etc. Já nem peço que o homem tenha lido "O Processo", de Kafka... mas que algum dos seus "próximos" perceba o alcance dele é também algo duvidoso.
Tiago Mendes
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