2006/10/16

De olhos bem abertos

Enquanto esta rubrica durar dificilmente haverá uma decisão tão fácil de tomar como a desta semana. A chegada de Pedro Arroja à blogosfera vinha há muito sendo anunciada e já tinha provocado vários tipos de reacções. O facto de as más reacções serem provenientes tanto da direita como da esquerda é sintomático do que representa Pedro Arroja para o establishment. Ao contrário de alguns companheiros de blog, não penso que o discurso extremista liberal de Pedro Arroja tenha efeitos nefastos sobre a ideologia. Pelo contrário, se se conseguir colocar a discussão ao nível das ideias ditas extremistas como a transacção de votos ou os benefícios da propriedade privada dos recursos naturais, mais facilmente se aceitarão ideias como o casamento ou o planeamento da reforma como assuntos privados com os quais o estado não deve interferir. À esquerda, a fórmula resultou. O país, hoje livre das nacionalizações e das perseguições populares, deixou de questionar o direito ilimitado à greve ou a sustentação pública dos sindicatos (as grandes máquinas de jobs para os boys comunistas).
Mais importante ainda, o primeiro post de Pedro Arroja demarca-o de muita blogosfera liberal, por se afastar da direita. Este pode ser um marco importante no discurso liberal, o fim da colagem ao neoconservadorismo e das reacções Pavlovianas ao discurso de esquerda que abre flancos à direita. Pedro Arroja entendeu há muito que a luta ideológica dos conservadores se faz pelos dois lados e que as alianças, com a direita ou com a esquerda, não devem ser constituídas ad eternum. É a colagem à direita conservadora e não o “extremismo” que tem prejudicado a difusão do liberalismo em Portugal.
Pedro Arroja é um empresário de sucesso, com uma vida estável que já sentiu na pele os problemas que um discurso contra o sistema e os interesses instalados pode trazer. Não lhe consigo desvendar nenhum interesse pessoal oculto, que não o do estímulo intelectual, em se vir meter neste lodaçal blogosférico. Como bom gestor de activos que é, terá capacidade de previsão suficiente para antecipar o tipo de reacções que os seus textos terão, e a forma como eles podem vir a afectar a sua vida. Conheço relativamente bem a obra de Pedro Arroja, não sei se ele será realmente o génio que alguns tentam passar ou apenas um excelente académico, mas se se mantiver na blogosfera por muito tempo é sinal que de génio, terá pelo menos a loucura.

O Post da semana é Leo Strauss de Pedro Arroja.

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