2006/09/13

Festival cómico-trágico

Tinha logo à partida pouca esperança no debate de ontem do Prós&Contras sobre o 11 de Setembro. A emocionalidade do tema, a falta de distanciamento como vítima óbvia da oportunidade acrescida de o debate ser feito na data, e a quase impraticabilidade notória de discutir o assunto com racionalidade e calma em público prometiam o pior. Os protagonistas do debate também não prometiam muito.

De qualquer modo, comecei a ver. Foi triste. A prestação de Mario Soares está, sem dúvida, há muito longe dos seus tempos de brilhantismo tribunício. A arrogância, permanentemente demonstrada pelo tom de sobranceria moral e histórica, e por uma tentativa permanente de subalternizar Pacheco Pereira, fizeram notar com clareza que Mario Soares não aprendeu nada durante a trágica espiral descendente que foi o seu desempenho durante a última campanha presidencial. A forma quase infantil como mordeu o isco de todas as armadilhas argumentativas que lhe eram servidas de bandeja assumiu proporções quase confrangedoras em alguns momentos. Um Pacheco Pereira particularmente inspirado conquistou vitória argumentativa sobre vitória argumentativa, diga-se de passagem, com aparente facilidade.

Coadjuvado por uma inenarrável participação do "intelectual da comunidade islâmica", de New York Times e Le Monde diplomatique em punho (não há uma tradução portuguesa do Corão anterior à dessesenhor?), a discussão rapidamente morreu. Perante a subtileza e a sagacidade argumentativa de Pacheco Pereira (o "toque" a Mario Soares sobre a negociação com os terroristas, fazendo a comparação com as negociações feitas com os movimentos independentistas das ex-colónias portuguesas foi de mestre!), o outro lado simplesmente se ficou por uma falta de comparência.

Aos que acompanham o que penso e ocasionalmente escrevo sobre o assunto, só afianço que a minha posição não é nem a de Pacheco Pereira nem a de Mario Soares. Mas face ao que se viu, só se pode esperar que alguém com dois palmos de testa e com alguma seriedade argumentativa não tenha dúvidas em, contrapostos os argumentos, alinhar com Pacheco Pereira.

Com muita pena minha, por ainda não ter sido desta vez que vi o tema ser discutido com o distanciamento e a razão que as questões internacionais exigem.

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