Conservadorismo Indy
Como o Pedro Mexia, não gosto de algoritmos (liberais ou outros) em política. Mas também nunca percebi em que se traduzia politicamente o estado de espírito que parece ser o traço definidor do conservadorismo político.
Anos de Independente, de Coluna Infame ou agora de revista Atlântico continuam a não esclarecer a questão de saber em que políticas concretas se diferenciam os novos conservadores dos liberais e demais alternativas políticas. Não tenho dúvidas que existam diferenças concretas, mas parto do princípio de que o silêncio em relação às mesmas por parte dos novos conservadores significa falta de argumentos, falta de imaginação política ou ainda de consistência teórica. Tal silêncio é ainda consistente com a consideração, implícita na reportagem de hoje do Público, de que o conservadorismo Indy sempre se afirmou mais pela pose do que pela substância; a pose que o Ricardo Dias Felner tão bem descreve ao dizer que a alternativa de direita forjada pelo Independente deveria ser simultaneamente conservadora e sofisticada, tradicionalista e libertina. Ou seja, tudo e nada...ou seja, irrelevante. Talvez mais prosaicamente se explique a inanidade do projecto político do jornal atendendo ao facto de as elites culturais do Portugal dos anos 90 preferirem ouvir o maravilhoso Neil Hannon a ler relatórios do Banco de Portugal.
Como revelam tão bom gosto, não os posso censurar. Mas também não posso deixar de continuar a pensar que, politicamente, o país nada ganhou com o Independente.
3 comentários:
"Mas também não posso deixar de continuar a pensar que, politicamente, o país nada ganhou com o Independente."
Uff! Afinal não estou sozinho com esta opinião. Estava até com receio que a minha apreciação do Independente estivesse a ser dominada por algum fantasma do passado, quando o socialismo me parecia uma coisa saudável!
Embora hoje já aceite melhor que que um indivíduo possa ter,simultaneamente, uma posição conservadora e liberal (embora o conservadorismo, neste caso, esteja mais relacionado com instituições do sistema político), há coisas que ainda me fazem, também, alguma confusão. E gostava de ver estas dúvidas devidamente esclarecidas por aqueles que se colocam, sem reservas, na ala conservadora. (E digo isto sem a mínima ironia; acho que seria um diálogo muito interessante e esclarecedor.)
Um abraço.
"Anos de Independente, de Coluna Infame ou agora de revista Atlântico continuam a não esclarecer a questão de saber em que políticas concretas se diferenciam os novos conservadores dos liberais e demais alternativas políticas."
Eu acho que não é difícil concluir: grande parte dessa direita de "novos conservadores" é hoje uma reciclagem do que no passado se apelidou de direita democrata-cristã. Um conjunto de pessoas que se aproximavam da doutrina social da igreja (travestida em discurso político) e do discurso da "tradição" e dos "valores", e que se refinaram adoptando (e adaptando) um discurso de "liberais na carteira", eventualmente por finalmente se terem convencido que ganhar dinheiro, ter lucro e ter sucesso no mercado não é pecado e é até bastante simpático. Contudo, os principios morais ficaram em grande parte inalterados, por conveniente invocação do valor da "tradição", o que lhes permitiu em grande parte colarem-se estrategicamente a uma determinada corrente do liberalismo mais defensora da tradição e do jusnaturalismo.
O discurso da superioridade moral conservadora, do horror à mudança (mesmo que seja só na porta do vizinho) perdura.
Em grande parte, o epíteto de "novos conservadores" não deixa de fazer sentido: no fundo estamos em grande parte a observar o reviver de um velho discurso e objectivo de poder, lavado e branqueado com uma nova estratégia de marketing que o permite "vender" em pacote com uma imagem mais moderna e que consegue apelar aqueles que, estando no liberalismo, não se importam de se juntar à festa com esperanças utilitaristas de os conseguir converter ou mais cedo ou mais tarde abandonar.
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