2006/07/04

O dever das empresas é não dar lucro

A central sindical CGTP insistiu hoje na necessidade de serem encontradas novas formas de financiamento da Segurança Social, propondo uma contribuição das empresas com base no seu Valor Acrescentado Líquido (VAL).

Esta nova contribuição incidiria sobre o valor acrescentado das empresas depois de lhes terem sido retiradas as despesas com salários, as contribuições para a Segurança Social e a amortização de investimentos, explicou hoje, em conferência de imprensa, Maria do Carmo Tavares, do executivo da Intersindical.

Assim já ninguém pode argumentar que uma medida destas prejudica o investimento das empresas”, disse a dirigente sindical, que tem a seu cargo o pelouro da Segurança Social.

Público Última Hora.
Ou seja, depois de cumpridas as suas obrigações para com os seus trabalhadores, depois de para isso serem obrigadas a entregar contribuições obscenas à Segurança Social e de IRC, a ideia destes senhores é que, depois de cumpridas todas estas obrigações que o estado estabeleceu para com essas empresas, se vá no fim além disso roubar na própria razão de existir dessas empresas. Sim, porque vá-se lá perder a possibilidade de taxar mais algum.

Depois admiram-se que haja fuga ao fisco.

A ideia destes senhores é que os empresários arriscam, perdem-se em investimento e em inovação, tentam-se rodear e manter junto de si os melhores não para prosperarem e verem a sua vida melhor, mas por uma obrigação de filantropia para com o estado. De que o investimento só serve para redistribuir mais dinheiro pelas massas.

Se esse investimento existe, e é feito, é exactamente pela perspectiva que o empresário tem de que com este vai potenciar os seus lucros. Ou acham que é para aumentar a quantidade de dinheiro que lhe vai ser roubada no futuro quando estes lucros aumentarem?

Alguém devia explicar à Srª Maria do Carmo que, se um empresário vir que o seu lucro legítimo é simplesmente sonegado, ele prefere deixar a referida senhora (ou melhor, os sindicalizados do seu sindicato, já que esta provavelmente é profissional do sindicalismo) tranquilos no seu desemprego e o seu dinheiro no colchão ou em locais mais seguro e menos arriscado do que dar-se ao trabalho de fazer alguma coisa. É que, assim como provavelmente a Srª Maria do Carmo e os seus sindicalizados não trabalham para aquecer, muito menos aquele que associado ao seu trabalho ainda tem todo o risco financeiro da empresa o vai querer fazer.

Em última instância, aquilo para que a srª Maria do Carmo trabalha é para ou os empresários presentemente em acção questionarem cada vez mais veementemente a possibilidade de fecharem a porta, ou a de aqueles que ainda não o são nem sequer se quererem meter nisso.

3 comentários:

AA disse...

muito bem...

Michelangelo disse...

Efectivamente algumas pessoas, à sombra de uma suposta luta pelas desigualdades, tendem a querer que alguns trabalhem para o benefício de outros!

Mais palavras para quê?

JLP disse...

Ricardo Francisco,

Concordo plenamente. Aliàs, a distribuição investimento/lucros vai muito da própria predesposição ao risco assumida pelo empresário. Nomeadamente quanto à ponderação entre a utilidade de um determinado lucro num determinado instante de tempo ou o comparativo lucro esperado (diferido no tempo) de um determinado plano de investimento constituído por esse lucro e associado a um determinado risco.

O problema é que estas pessoas só compreendem a economia de um ponto de vista planificado, em que o investimento é dissociado do risco e as metas são uma determinada perspectiva mais ou menos benévola de "bem comum". Não havendo risco efectivo (muito menos pessoal) e estando o cash flow à mão de semear por apropriação da riqueza de terceiros, não admira que pensem que é fácil compartimentalizar e autonomizar as despesas de investimento.

Abraço,

JLP