Excitações
Escreve Miguel Abrantes na Câmara Corporativa:
O terramoto ontem anunciado apanhou muita gente de surpresa. Por exemplo, o Blasfémias e O Insurgente, seja por ignorância, seja por não se conformarem com a realidade, andam, desde ontem, ao despique a ver qual dos blogues consegue dizer o maior disparate. A coisa está renhida.Aparentemente, parece que o caro Miguel Abrantes tenta avançar rápido e em força para disputar o lugar de primazia nesse mercado. Vejamos:
Como concluiu AAA que a liberalização ia ser “condicionada”? Como concluiu AAA que haveria “restrições artificiais à abertura de novas farmácias”? Como concluiu AAA que irá manter-se “uma barreira administrativa à entrada no mercado”? AAA não diz.Efectivamente nesse caso em concreto o AAA não diz, mas a leitura atenta das várias notícias emanadas sobre o assunto poderiam rápidamente esclarecer porque o terá dito. Senão vejamos o que relata o Portugal Diário (com negritos meus):
Nesse sentido, de acordo com Sócrates, o executivo vai adoptar «um regime de incompatibilidades, já previsto na lei, que será alargado e reforçado, de modo a impedir que possam ser proprietários de farmácias os próprios prescritores de medicamentos, bem como as empresas de indústria farmacêutica ou de distribuição grossista de medicamentos».Será que isto não é condicionamento, tratando-se claramente da imposição de condições? Será que isto são "restições naturais"? Terão sido números emanados do Divino? Porque 4 e não 3 ou 5 ou 10? São ou não são estas barreiras de índole administrativo a qualquer pessoa que em liberdade deseje abrir em qualquer lugar uma farmácia? Será isto a tal "liberdade" na propriedade da farmácia, ou teremos neste campo mais um adepto da "licenciosidade"?
Sócrates disse ainda que, para garantir o equilíbrio nas condições de concorrência, «será estabelecido um limite à concentração da propriedade das farmácias, de forma a que nenhuma pessoa ou entidade possa deter, directa ou indirectamente, mais do que quatro farmácias».
Segundo o chefe do Governo, «a distância mínima entre farmácias será reduzida de 500 para apenas 350 metros e a capitação mínima de habitantes por farmácia vai baixar dos quatro mil para 3500».
Continua:
João Miranda descobriu que a liberalização da propriedade das farmácias iria provocar um aumento do valor dos trespasses, porquanto haveria uma maior procura. E não vai haver uma maior possibilidade de acesso que resulta da liberalização da propriedade? Quantas farmácias poderão surgir na zona da Expo (em Lisboa), onde agora só há duas? O último período do trecho reproduzido leva a crer que João Miranda ainda não se deu conta de que, a par da liberalização da propriedade, irão poder ser abertas novas farmácias — muitas centenas, provavelmente.O próprio governo estima em 300 as novas farmácias a serem criadas, segundo os critérios que definiu:
Na sua intervenção, na Assembleia da República, o primeiro-ministro disse que o seu Governo vai autorizar a criação de cerca de 300 novas farmácias, «alterando-se as limitações actualmente existentes».O universo da procura é estendido do universo dos farmacêuticos para o universo de todas as pessoas interessadas em explorar esse tipo de actividade, resgardadas as restrições acima. Acho que é bastante óbvio o que cresce mais, se é a oferta se é a procura...
João Miranda diz mais: “Acabam de perder o monopólio da propriedade das farmácias. Mantêm o monopólio da venda de medicamentos.” Não é verdade, os medicamentos não sujeitos a receita médica já são vendidos fora das farmácias em mais de 100 estabelecimentos.Se o Miguel Abrantes me conseguir mostrar que os vendedores de medicamentos de venda livre concorrem com os medicamentos sujeitos a prescrição e vice-versa (salvo em aberrações e originalidades legislativas como as da pílula do dia seguinte), acho que terá o seu argumento provado.
Para já fica por aqui.
Sem dúvida que o passo foi um passo positivo na direcção de uma verdadeira liberalização das farmácias. Acho que ninguém, mesmo entre os liberais, discute isso. Mas vir afirmar que esta é a liberalização quando efectivamente se obteve uma semi-liberalização, longe de um cenário de propriedade efectivamente livre, em que qualquer um que o deseje (salvo naturalmente os casos em que haja conflito de interesses, como o caso dos médicos) terá a liberdade de abrir uma farmácia onde bem entender, ou é mostra de má-fé, de deslumbre socrático ou é demonstração de que não se compreende o que quer dizer "liberalização".
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