Igualdade à partida
“Qual é o mérito de ganhar uma corrida de 10km começando com 9km de avanço sobre a esmagadora maioria dos concorrentes?”
O raciocínio subjacente é que o estado deve combater as desigualdades provenientes de factores exógenos à capacidade de aprendizagem da criança, de modo a ter uma avaliação mais correcta do verdadeiro mérito da mesma. Ora para o fazer, é importante saber quais os factores que apesar de serem independentes do mérito da criança acabam por contribuir para o seu sucesso escolar de forma a poderem ser "igualizados".
De entre as famosas estatísticas de Steven Levitt, há uma particularmente interessante neste capítulo, que compara os resultados nos exames nacionais de alunos segundo variados factores explicativos. Recorrendo ao método da regressão linear (que ainda é a ferramenta estatística mais robusta), os resultados obtidos foram:
8 factores fortemente relacionados com bons resultados obtidos nos testes, sem ordem particular :
- Os pais possuem um nível de instrução elevado
- Os pais detêm um estatuto socio-económico elevado
- A mãe tinha mais de 30 anos quando o filho nasceu
- A criança nasceu com peso alto
- Os pais falam inglês em casa (língua nativa, no caso)
- A criança não é adoptada
- Os pais da criança participam nas associações de pais
- A criança tem muitos livros em casa
O que os números nos mostram não deixa de ser uma lição para muitos fabricantes destas frases enlatadas. A igualdade de oportunidades é um mito porque as oportunidades de uma criança são diferentes das do vizinho quer queiram quer não. O mérito de uma criança está sempre dependente de factores alheios a ela própria e as suas oportunidades também. O objectivo é tão somente impedir que a falta de acesso à educação (seja de que forma for) a impeça de as alcançar. O que é radicalmente diferente de querer que tenhamos todos as mesmas oportunidades de sermos igualmente bons nas mesmas coisas.
3 comentários:
Não tive pachorra de ler até ao fim.
Não há diferença entre defender a igualdade de oportunidades "no ínício" ou "final" -- porque no processo de implementação do primeiro tipo, o objectivo é um resultado: é uma "igualdade final".
1 - o post vai no sentido de criticar a tese da igualdade de oportunidades à partida (mas hélas, é preciso ler até ao fim)
2 - a afirmação n está 100% correcta, o objectivo pode ser que os resultados à chegada dependam de um só factor (o mérito escolar no caso) e não que sejam iguais
3 - obrigado pela ilustre visita : )
"Durante o debate-maratona do blog liberal-social (...)"
"Não tive pachorra de ler até ao fim."
As coisas que eu às vezes ainda faço em prol do Liberalismo e da réstia de esperança de encontrar consistência onde ela parece, infelizmente, já não existir...
:)
Francisco: acho que o António estava a dizer somente que não teve pachorra de ler a discussão no MLS até ao fim... ;)
Boa análise do Francisco. A quebra de mitos é uma tarefa muito importante.
Quanto ao António, neste caso tenho que em certa medida discordar. Acredito que é bastante diferente implementar políticas de igualdade à partida e à chegada, e que é possível implementar a primeira sem obrigar a definir sucessivamente também a segunda como objectivo.
O factor do mérito referido pelo Francisco é quanto a mim também um bom factor distintivo.
Mas a perspectiva da "igualdade à partida" deve ser sempre a de atenuar as desigualdades exógenas, como refere e bem o Francisco, já que efectivamente há factor desigualitários que são incorrigíveis.
Sem dúvida que o factor chave da discussão é a questão da Educação. Conto no decorrer deste fim-de-semana escrever por cá um artigo com a minha posição em relação à Educação, que inclui a minha perspectiva em relação às medidas promotoras da igualdade à partida que implementaria.
Abraço aos dois e até mais ver em relação ao assunto!
João Luís
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